Friday, December 09, 2005

Haverá tempo?

Não sei porquê, mesmo depois daquelas que iam e vinham, aparecias-me assim vinda do nada, em sonhos… Sei lá porquê… Muitos deles descrevia-los aqui. Depois um dia, por pensar que já era mais do que óbvio que me tinham topado, depois de me cruzar com um bando deles, fiz um delete e apaguei esta merda toda. Fiquei triste porque podia ao menos ter feito uma cópia para mim. Também de resto, também pensei que não fosse servir de nada… Se calhar já me tinhas topado mesmo, há séculos… E eu que até sou tão discreto.. Or not… Ah, voltando a um ponto crítico. Uma das razões que me levou a desaparecer, foi pensar que já estavas perdida. Para aquele outro. Mesmo assim, não sei se não estarás. Não sei por quem, nem sequer interessa. E se estiveres, faz o que achares melhor… Também não sou exemplo para ninguém. Apesar de que cheguei a um ponto, em que me fartei de tudo… E de todos. E depois isolava-me, e aparecias-me tu. Sabe-se lá como. Tudo o resto foi, e no final ficaste apenas tu. Não por desespero, como dizes, ou por não ter mais ninguém. Simplesmente porque sempre lá estiveste, e nas camadas mais fundas, mais sedimentadas. O meu subconsciente elegia-te, vá-se lá saber porquê… E tu sabes. Já o resto, por vezes transformava-me num parolo, sujeito aos desvios conforme soprava o vento. Shame on me… Mas acho que me descaí sempre, e tu sabias… Mas nunca acreditei de facto em algo mais, apesar de o desejar, por falta de auto-estima… O que parece mais fácil, parece sempre mais provável. Oh gaja, só eu sei… Eu e os poucos que me aturavam, quando estava perdido de bêbado… E depôs vinham-me pergunta: Ouve lá, quem é a fulana X? Espera aí, mas que se está aqui a passar? Isto é mesmo surreal… Vou dormir. Depois tenho de apagar isto, está demasiado evidente. Apetecível mesmo, para tablóides sensacionalistas… Olha. Mas não te preocupes com nada. Não penses em nada. Não te peço nada. Estou feliz. Nem sabes o peso que me sai da consciência… Isto seria um pesadelo que carregaria por muito tempo… Para veres.., acredites ou não, passei as noites todas à procura de ti, pelos sítios onde te vi das últimas vezes. E de resto lixei-me fortemente, porque não consegui fazer mais nada… Pode ser que ainda me salve. E de resto? Achas que ainda há tempo para salvar alguma coisa?

Arrrrrrrrghhhhh

Fodasse, fodasse, caralho foda-se..!
Sou mesmo uma grande MERDA!!!
"Estou FARTO de mim!!!"
Queria estalar os dedos e desaparecer...
Para sempre...
Arrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrggggggggggggghhhhh!!!

I am sorry about.. me

I know I'm a lauzy piece of cheat.
And I know I come in a bad time.
But i'm not asking you much.
It's predictable that your mind (mabe even body)
is now out on a long date...
But at least give me a clue,
i need to know about your back then mental state.
After that i promise i'll get away
and leave the town,
regreting for my mistake...
And i know i don't worth the risk,
so lets keep it secret,
and don't tell your mate...
One thing i used to do well,
was to fake...
So truste me, and speak.
I'll handle the truth
and you'll still be safe...

Rain

Speak to me...
Dont you see?
I'm in pain.
Cause i'm responsable for the rain...

Carta Última

A descoberta foi um mero acaso. À medida que ia passando o tempo, tudo parecia cada vez mais estranho, como a luzinha da semelhança tocasse cá dentro... Agora pareco já não ter dúvidas... Sim, das letras, falo desse teu sítio, onde gostas tanto de estar. Foi ridículo, o meio de confirmação. Se a princípio, quando comecei a repetir aquele trocadilho, me senti o maior otário á face da terra, a verdade é que depois se revelou útil.. Ganha agora novos contornos, pelo menos para mim. Ao contrário do que possas pensar, o anonimato para mim sempre foi um bem supremo. Amigos sempre procurei poucos, mas tentei sempre escolhar os bons... Bem, depois disto, pouco mais haverá a dizer. È certo, que o certo coeficiente de dúvida que tomava como certo, há muito de deveria já ter assumido traços de clareza para uma pessoa na área da investigação. O meu receio agora, vai mesmo as elevadas taxas de adesão que a imprensa social cor-de-rosa parece ter neste país. Não te imagino nesse sector, verdade seja dita. Ah, é verdade, espero abandona-lo assim que possa. Nunca fui de criar muitas raízes, e parece que o começar de novo nunca foi grande problema para mim. Quer dizer... Quando se viaja com pouca bagagem, tudo parece mais fácil. Como vês também nunca tive muita roupa, e a que tenho também não será de difícil substituição. Mas isto são apenas e só, devaneios... Só eu saberei também o embaraço que esta inocente brincadeira poderá causar... Reconheço contudo que nunca fui muito discreto. Descudei-me várias vezes, mas partindo sempre do princípio que pequenas ousadias não seriam de todo evidentes... O mundo é de facto mais pequeno do que aquilo que se julga, e se a minha profissão fosse agente secreto, o meu futuro profissional estaria agora em grande risco... Um destacamento para zona diferente, seria provavelmente o veredicto. Contudo, acho que no fundo é o que se passa actualmente. Eu contudo, ficarei cá por mais uns tempos. Não nego que gosto disto, mas acho que o depois do tempo regular, já estarei devidamente preparado para viajar. Pelo meio sempre vou tendo mais um tempo para pensar no destino. E não acho que a espera vá ser tempo perdido... Mas voltando ao assunto que motivou este devaneio, penso que foi basicamente isso, a culpa, o remorso. Um "mea culpa". Não por não ter lutado mais, e transformado as coisas á minha conveniência (porque na verdade era uma simples sensação de adolescente, que sabia desde sempre impossível na prática), mas sim uma profunda vergonha pela forma como o fiz. Invocando a ambição pessoal, que nunca foi a minha bandeira, nem a razão da minha presença. Quando dei por mim estava contaminado... Não sou perfeito, mas a hipocrisia social não tornava o ambiente muito agradável... E cheguei a esta conclusão duas vezes. Quando olho á minha volta, começo a pensar que há males que vêm por bem. Mas o real problema que me levou a sair, presumo que saibas qual foi. Mea culpa. O problema era eu... E queria pedir desculpa por aquelas minhas últimas palavras...

De resto, espero que tudo tenha corrido bem, como previ. Não previa era eu estar agora nesta situação embaraçosa. Não nego que o procurei por aqui muito tempo, e que usava isto como confissão. Vinha aqui despejar a minha roupa suja, nas altas horas da noite, quando a insónia atacava. E apesar de ter tido por vezes, imaginado um cenário como este, a verdade é que o tinha como altamente improvável... Como tal, as ideias que me surgem para resolvê-lo, são no mínimo, realizadas sob pressão. Clarificar ainda mais uns pontos? O que se passou comigo foi um sentimento inocente, irracional, espontâneo... Sempre pensei, muito sinceramente, que ficasse para sempre selado em mim... Isto era uma espécie de diário para nunca ser lido...
Não penses por isso, que era alguma forma de pressão, de confidência, ou sequer de declaração... Era uma testamento para ser lido, quando morresse. Além disso, são apenas notas adicionais irreleventes, para um caso que se fechou há tempo, e que para ti nunca devia ter sido sequer apresentado. Tinha sempre a consciência que era um disparate da minha parte. Sempre soube que tinhas o teu universo próprio, do qual nunca fui quem pudesse contactar de perto. Por isso, volto a repetir, era uma fantasia inocente, de uma pessoa demente. Sim, porque se bem que ainda sou, nos primeiros tempos trazia comigo a decadência em pessoa.., Por isso apesar de pensar impossível, dei por mim assim... Seja como for, e partindo do princípio que está praticamente tudo dito e resolvido, aqui deste lado, só me resta dizer que é meu desejo sincero que todos estes devaneios aqui proferidos, não provoquem um acréscimo de sentimentos negativos (ou mesmo sarcásticos) em relação á minha personagem... E se ainda for possível, que se transformasse num segredo, não um comunicado... Mal nenhum te faria um desmentido, para proteger um rídiculo moribundo. Já para não falar dos pesadelos que tenho ao imaginar-me a cruzar com certas e determinadas pessoas... Nem quero pensar como irei reagir, mas provavelmente não reagirei de forma nenhuma...

Ah, e já agora, pode parecer estúpido, mas coincidência ou não, estava a pensar acabar de vez com estes devaneios e mudar de casa... Não o vou fazer por isto, como é óbvio, claro está... Se queres que te diga, neste momento não sei o que hei-de fazer com isto, de todo... Não vou fazer nada. Ah, e aquela cena do noooo San Petersburg, foi mesmo uma negligência da minha parte.. Quem me manda a mim andar sempre tão fora? Acho que precisava de encontrar uma forma de chegar a ti... É que depois só faço merda. Tentar adivinhar possíveis moradas, para investigar perfis, se não for acompanhado de uma devida reposição da situação anterior, pode resultar numa..: Barraca monumental!!! A isto se chama dar bandeira! Que mau... Enviei aquilo na minha inocência para todas as moradas. Aquele possível endereço, não estaria prevista na ementa. Não me preocupei muito depois, porque esperava que tal morada nem sequer coincidisse... De resto, lembro-me que quando me apercebi do incidente, apaguei de imediato... Mas pronto. Eu sei que é triste, mas que posso dizer..? Por outro lado, a reboque de uma grande carga, e com requintes de comédia, lá consegui, à custa de alguns incidentes e (in)felizes coincidências pelo meio, chegar ao teu contacto. E quase com mestria de investigador, sem fontes rigorosamente nenhumas. Agora já sabes que te menti, e que não foste tu a principal razão para justificar todos os meus comportamentos infantis. Nunca deveria ter deixado de conviver, de te falar, e muito menos de te ter dito aquelas coisas horríveis... Desculpa. Ah, e quanto ao resto, que fui dizendo... Sim é verdade. Sonhei algumas vezes contigo, mesmo depois de tanto tempo sem te ver. Mas creio que Freud explica isso algures na sua teoria. Diria de forma grosseira, que enquanto não te fizesse chegar estas palavras, o meu subconsciente não faria as pazes comigo... Com o tempo desaparecerá. Reconheço os meus erros. E não posso deixar de referir, sob pena de ser hipócrita, que nunca deixei de nutrir um carinho especial pela tua pessoa. Mas creio que isso, sempre soubeste. Creio que isso é normal. E soube separar as águas. Quando perdi o controlo, desapareci. Pelo menos até vir despejá-las aqui neste grande oceano. Sempre te vi noutro cenário, que não o meu, e é justamente lá, assim, que te imagino agora. Só desejo, é muito sinceramente que sejas feliz... E que esqueças rapidamente estas pequenas infantilidades minhas.., todas elas... E não precisas dizer nada...

À Primeira Vista

Quero voltar a acreditar no amor à primeira vista.
Quero esquecer rapidamente,
que uma relação pode resumir-se a uma conquista...

Mentiras

Mentiria se dissesse acreditar em milagres
Mentiria se dissesse acreditar em finais felizes
Mentiria se dissesse acreditar no amor
Mentiria se dissesse acreditar que nunca é tarde


Mentiria se dissesse que me sinto bem neste momento
Mentiria se dissesse que não se passou nada
Mentiria se dissesse que consigo esquecer
Mentiria se dissesse que não ** ***...

O Início do Fim...

Era um dia como este... Quando naquela esquina, me confessava... Tentava chamar-lhe a atenção... Eu. Queria que ela acreditasse... Era a única pessoa a quem queria prová-lo. Aproximar-me. Não percebeu... Não lhe expliquei... Nunca lhe pude contar o resto do sonho que tinha tido naquele verão... Ela. E aquele reencontro marcaria o início do fim...

Henrique II (Quarta-feira, 8 de Setembro de 2004)

Faz anos que já não falo com Henrique. Era uma pessoa boa, reservada. Era também um céptico por natureza. Apesar de perspicaz, não era grande lutador. Henrique sabia que não podia esperar nada dos que o rodeavam. Sonhador conformado... Procurava os pequenos prazeres da vida, escapava aos grandes deveres... Era também impulsivo. Não conseguia enfrentar problemas. A sua estratégia, era simplesmente, esquecer, ignorar, contornar... Henrique era perito, por assim dizer, em formatar a sua vida... Conhecera muita gente má... Henrique não suportava amargos de boca. Sempre que algo ou alguém lhe provocava uma situação desagradável, Henrique não exitava em usar a sua borracha permanente, e apagar tudo da sua memória.

Certo dia, disse que precisava de falar comigo. Estava preocupado. Henrique não conseguira evitar os olhos de uma bela mulher, e apaixonara-se. A partir desse dia passou a frequentar o mesmo lugar sempre que podia, para poder voltar a vê-la. Contudo não se sentia muito bem naquele sítio. Toda aquela normalidade o aborrecia. Contudo, sentia uma necessidade cada vez maior de olhar aqueles olhos, aquele sorriso, aquela face rosada... O tempo foi passando e Henrique ia-se apaixonando cada vez mais. Quando chegava a casa, via Henrique rejubilar de alegria pela recordação de mais um olhar, de mais umas palavras. Outras vezes, dava por si triste... Dizia ele que eram os ciúmes. Certo dia tudo tinha mudado. Joana não mais frequentava aquele sítio, senão de passagem... Henrique, com pouca auto-estima e sempre preocupado em evitar toda e qualquer demonstração de afecto que extravasasse a amizade, ficara triste mas conformado... Iria apenas conviver e tentar encontrar bons momentos de amizade. Desistira de amar... Mas certo dia Joana regressou. Henrique, que durante anos não tinha amado mais ninguém, dá por si numa tremenda confusão. A sua negligência e ingenuidade, tinham-no deixado num beco sem saída. Henrique, que nem a si próprio se amava, já não sabia quem amava realmente, e se amava sequer tão pouco... Fugira á confrontação. Henrique inventara a conclusão que nada haveria para pensar, pois a confusão só existiria na sua cabeça... Segundo ele, bastaria deixar de pensar naquele problema, e ele desapareceria automaticamente. Henrique tinha apenas uma certeza. Ninguém nunca o amara realmente... Uma borracha e uma conta de subtrair, resolveria o problema...

Henrique alterou radicalmente sua vida, e não mais regressou aquele sítio. Não mais voltou a ver Joana, senão ao longe e ficou conformado com o destino daquela solução. Henrique estava agora de novo sozinho. Em sítios diferentes, e mesmo com vontade de se voltar a apaixonar, não conseguia contudo esquecer aqueles momentos... Joana estava permanentemente nos seus sonhos. Henrique não aguentava mais aquela situação. Tentou regressar para dissipar aquelas dúvidas enevoadas, mas o seu cepticismo já não conseguia passar despercebido... Os ferozes cães de guarda da produtividade e do modelo padrão, barravam-lhe o caminho, instintivamente... Henrique, agora mais céptico do que nunca, desiste definitivamente... Ficaria para sempre por resolver aquele enigma... Novos viriam...

Mas passados anos, já não é a paixão, nem a confusão, nem as dúvidas que atormentam Henrique... Não é simplesmente a culpa por ter abandonado Joana… Não é a conversa nunca aflorada, não é o beijo nunca dado, não é a relação nunca consumada… É a imagem dela, que insiste em aparecer ininterruptamente nos seus sonhos... Aquela face que lhe aparece como no primeiro dia em que a viu… Aquele arrepio na espinha que sentiu quando pensou “é esta”... Aquele olhar, que só ele sabe como lhe fere todas as certezas... Saberia ela? Rabiscos perdidos de uma paixão antiga… Platónica, perfeita impossível... Apenas remorsos subconscientes de uma oportunidade perdida.., por ele... Para sempre...

Henrique

Falei há dias com Henrique. Sonhador inconformista.. Entusiasta os pequenos prazeres da vida... Henrique contou-me uma história... Dizia que uma imagem o atormentava. A imagem de uma mulher. Henrique não conseguira evitar os olhos de uma bela mulher, e apaixonara-se. A partir desse dia passara a regar a sua vida, de forma a poder vê-la. Sentia uma necessidade cada vez maior de olhar aqueles olhos, aquele sorriso, aquela face... O tempo ia passando e Henrique ia-se apaixonando cada vez mais... Mas Henrique, era um homem com pouca auto-estima. Retirado há algum tempo de grandes afeições, estava sempre preocupado em evitar toda e qualquer demonstração de afecto que extravasasse a amizade.

Certo dia, sem se aperceber muito bem como, Henrique dá por si numa tremenda confusão... Henrique encontrava-se num beco... A certa altura queria apenas fugir dali... Pensou. Reflectiu... Nada haveria para decidir... Desaparecendo ele, desapareceria o problema... Uma borracha e uma conta de subtrair, resolveria a situação... Henrique não mais voltou a ver Joana... Mas contra tudo o que até aí lhe parecera tão lógico, Joana continuava permanentemente nos seus sonhos. Henrique já não aguentava mais aquele masoquismo inconsciente... Tentou regressar, e fazer as pazes com ele próprio... Mas o seu protesto não passara despercebido... O caminho barrado definitivamente... Henrique, mais céptico do que nunca, desiste definitivamente... Ficaria por resolver aquele enigma... Novos surgiriam entretanto...

Passado este tempo todo..., Henrique continua sem conseguir esquecer...Não foram as palavras que ficaram por dizer, não foi o beijo que nunca lhe deu... Não era simplesmente culpa... Uma estranha revolta da mente... A permanente imagem dela, que insiste em aparecer misteriosamente nos seus sonhos... Daquilo que poderia ter sido... Daquilo que nunca seria... Não apenas dúvidas, nem simples curiosidade... É saudade... Daquela voz... Daquela face... Daquele sorriso... É saudade... Daquele olhar... Que lhe abala todas as certezas....

Normal

Sinto-me estranho, muito estranho. Sinto uma mutação estranha ocorrendo dentro de mim. Não, não sinto dor. Uma apatia generalizada dentro de mim, que não me permite sentir nada. Rigorosamente nada... É como se todo o mundo tivesse mudado completamente e eu continuasse a ser o mesmo. É como se eu tivesse mudado radicalmente e o mundo permanecesse inalterável. Sinto-me calmo, muito calmo... Sinto dentro de mim uma serenidade interminável, como se todos os motores tivessem desligado subitamente e entrado em modo de repouso. Sinto-me como se tivesse entrado no nada, no vazio, no infinito... Sinto-me na plenitude racional de um nómada, de um velho da montanha, de um eremita... Não sinto mágoa, nem sinto alegria. Não sinto tristeza, nem sinto euforia. Não sinto empatia, nem sinto distãncia. É como se já não conseguisse amar nada nem ninguém, e como se também não conseguisse odiar nenhuma coisa em especial. É como se não sentisse nada, rigorosamente nada... É como se tivesse levado uma vacina, uma anestesia geral que me tivesse deixado relaxado da cabeça aos pés... Sereno, muito sereno... Sabe bem, sabe quase bem. Sabe bem voltar a entrar na realidade, na fria e objectiva realidade. No fundo estou apenas eu, volto a reencontrar-me comigo.., no estado normal.., no meu estado normal...

Café

Não consigo dormir. Estou calmo, não estou nervoso, não sei como estou... Acho que estou normal... Não consigo dormir. Sei do que foi, já sei do que foi. Não posso tomar, não quero mais tomar. Foi o café, o maldito café. A realidade. É o café que não me deixa dormir. Não estou habituado ao café... O café não gosta de mim, e eu dou-me mal com o café. Nunca me consegui habituar, de facto. Não me quero habituar. Odeio café. Não gosto da normalidade, assim tão pragmática. Especialmente á noite. Não se deve beber. Especialmente eu. Gosto da noite, mas não gosto de café. Damo-nos bem em alturas complicadas de muito stress... É útil para mim, nessas alturas. Dá-me força. Mas será que preciso dessa força nesta altura? É uma relação de amor-ódio. Não, nesta altura já não. Eternamente? Nunca. É tempo de paz, de plenitude, de harmonia... Não de stress. Não de café. Não devia ter tomado café. Não estou habituado a tomar café. Não gosto do efeito do café. Não quero força, neste momento. Não quero impulsão, só pela acção. Quero dormir, quero descansar, quero sonhar... Mergulhar num sonho bonito... Café não, porque não me deixa dormir... Sou demasiado sensível ao café, não quero mais café... Mas porque fui eu tomar café? Eu já sabia que o café é demasiado stressante, que não me deixa feliz, relaxado... Não me dá satisfação... Apenas uma sádica conformação... Não, não vou voltar a tomar café... Quero procurar o que realmente me dá prazer... A sensação de bem estar verdadeira... Vou voltar á droga... E ao álcool... O café? Que se foda o café...

Mudos

Toda a gente tem dúvidas.
Toda a gente tem preconceitos.
Toda a gente tem medos.
Toda a gente tem defeitos.
Toda a gente tem incertezas.
Toda a gente tem sonhos suspeitos.
Toda a gente tem coragem.
Toda a gente tem receios.
Mas grande parte, contrariada, fica com o primeiro que (a)parecer...
Outra parte recalcada, fica á espera, e entretanto vai sofrer...
Uma minoria inconformista, não desiste do sonho, de realmente viver...


Angeloy It..!

Dance,
Let you dance baby blue
Be your self
dance whenever you feel like to

Dance,
Let you dance baby blue
Forget time ignore reality...
Enjoy these wor(l)ds and just be you...



To My Friend, Baby Blue

Can't Erase, Can't Restart...

Can´t erase her from memory..,
And i do try,
The only logical escape,
from us..,
from a strange situation.
Even tough its too late
we still think how would it be like...
Can´t say it wasn´t my fault too.
Expecting too much from you and your loved ones
makes you cold and, distant.
After that days,
everything would be so less far away.
Not everything in your perspective...
Everything there me,
represented the oportunity of us.
Today I would do it so different...
And I will remember...
Her eyes seemed to make all that black clouds desapear.
Deep in my memorable dreams...
A watch-out stick in my throat,
till the very last day...
Strange inconscient feeling,
not just someone who has passed by...

I never had the chance to ask her to stay,
and i never had the time to say goodbye.

Dança, dança para mim...

Dança, dança para mim esta noite...
Dança esse sorriso, esse charme, essa simpatia.
Dança misteriosa das arábias,
Perdida nas histórias de encantar,
Só Tu conseguiste aprender a lembrar...

Dança, dança para mim esta noite...
Dança esse olhar, essa voz, essa textura…
Dança fascinante das arábias,
Perdida nas histórias de encantar,
So Tu conseguiste aprender a pensar...

Dança, dança para mim esta noite...
Dança esse pensamento, essa revolta, essa consciência.
Dança intrigante das arábias,
Perdida nas histórias de encantar,
So Tu conseguiste aprender a gostar...

Dança, dança para mim esta noite...
Dança essa mágoa, esse tristeza, essa sensibilidade.
Dança distante das arábias,
Perdida nas histórias de encantar,
So Tu conseguiste aprender a partilhar...

Dança, dança para mim esta noite...
Dança esse sentimento, esse carinho, essa ternura.
Dança sedutora das arábias,
Perdida nas histórias de encantar,
So Tu conseguiste aprender a entregar...

Dança, dança para mim esta noite...
Dança, essa aurora, essa alegria, esse amor.
Dança apaixonante das arábias,
Perdida nas histórias de encantar,
So Tu conseguiste aprender a sonhar...

Queria, Mas Não Consigo...

Hoje queria escrever sobre um anjo que há uns tempos passou por mim, e que julgava(me?) perdido...
Mas confesso que depois senti-me pequeno, muito pequeno... Comecei até por escrever um poema que depois rasguei e deitei fora... Por (me) achar ridículo, simplista, superficial, inútil.., desisti e deitei-me para o lixo... Reli a intrigante naturalidade, a consciente profundidade, o cansaço sonhador, a invulgar perspicácia, a directa frontalidade, a estética literária.., e senti-me ainda novo, muito novo, como se ainda fosse uma criança e ignorasse todas as coisas... Paro novamente de escrever, e fico reticente... Nada sei, tão pouco nada sei, quando falo com alma tão profundamente pensada... E ao mesmo tempo imagino aquilo que desconheces e que nunca vais ter noção de não conhecer...

Guilty

Guilty Lyrics
Artist(Band):Ella Fitzgerald


Is it a sin? Is it a crime?
Loving you dear like I do.
If its a crime then I'm guilty.
Guilty of loving you.

Maybe I'm right, maybe I'm wrong
loving you dear like I do.
If its a sin, then I'm guilty.
Guilty of loving you.

What can I do? What can I say
after I've taken the blame?
You say you're through, you'll go your way.
But I'll always feel just the same.

Tesouro

Lá na penumbra da noite escura
No meio dos bosques amaldiçoados
Busco a renovada frescura
Longe dos puritanistas frustrados.

Pelos escuros recantos do infinito
No misterioso sonho silencioso
Solto as amarras do mundo horroroso
E parto para um outro desconhecido.

Sem Efeito

- Dr, acho que não vai ser necessário duplicar a dose... Estava de facto até a pensar se seria possível reduzi-la...

- Ainda bem que é o senhor que me diz isso. Deverei depreender daí melhorias?

- Hum... Uma ligeira acalmia, sim... Começo a analisar tudo mais racionalmente e surgem conlusões diferentes... Ela ainda vai ser muito feliz, e eu também... Mesmo separados, para sempre...

- Noto de facto hoje uma ligeira moderação nas suas palavras, devo confessar-lhe. Esperava que fosse rápido, mas não que fosse tanto.

- A vida está em constante mutação e movimento... Todos os dias o sol se põe, e a noite cobre os céus... Ela é uma pessoa boa, e terá alguém igual a seu lado para poder compartilhar esses momentos...

- Tem mesmo a certeza que quer acalmar? Dir-lhe-ia em tom de brincadeira que o último tratamento estava a ser positivo...

- Desejo mesmo, e harmonia para ela... Era apenas um sonho inocente, que acabou... Desejo sinceramente que nunca o tenha sonhado também... Desta forma, já tudo parece(ria) fazer sentido...

O Incerto

Esquecer tudo. Sem outros, sem eles. Nós? Só porque nos apetece... Quando? Agora? Nunca? Não é tarde? Será que ainda temos tempo? Imaginei-te, por segundos. Depois veio o tempo, sempre o tempo... Sim, sou directo, mas pouco... O certo? Fica. Eu sou o incerto. Vou...

O Reencontro

- Não esperava vê-lo por cá tão cedo...

- Nem eu. Dei por mim a mutilar o cabelo. Sinto-me ainda pior, embora mais "conformado".
O mundo é muito feio... Queria continuar a viajar, mas só consigo.., escondido dele... Esgotam-se-me as forças na insistência...

- Mas não notou melhorias nenhumas?

- Sim, quando rodeado das pessoas que gosto... Mas á noite... sentia-me preso, e sem fuga possível... Mas a realidade é mesmo assim.., fatal, linear, previsível. Pouco ou nada haverá a fazer...

- Vamos então experimentar outro tratamento. Vamos voltar aos comprimidos, mas desta feita vamos aumentar as doses.

- O meu desejo era ilógico, não-necessário, p'ra ninguém senão para mim... Irrealista, idealista, pouco sensato. Mas que diabo, mesmo assim gostava de falar com ela ...

- Assim nem triplicando a dose... Vejamos se conseguimos resolver isso rapidamente.

Filho da Puta

- Mas que ideia acha que ela terá de si?

- A de um grandessíssimo filho da puta... Insensível, egoísta.., não sei... Acho que me odeia. Não, odiou... Agora já nem isso... Está-se a cagar, completamente. Mas não a censuro, nem um bocadinho. Outra coisa não seria de esperar. Na realidade nunca se passou nada, nunca deverá ter existido. Só mesmo na minha cabeça. E mesmo assim, já não faz qualquer sentido... Vem fora de tempo, já ultrapassou há muito o prazo de validade... Doutor, ajude-me...

- Acho melhor interromper a medicação por uns dias...

Loucura

Não é fácil. Sabia-se de antemão que não seria fácil. Mas contigo foi particularmente difícil. Lembras-te daquele primeiro olhar? Que terias sentido? Alguma sensação te terá tomado o pensamento. Nunca a revelaste. Talvez nunca tivesse sequer existido. Enxotaste violentamente a minha mão quando te tentei fazer uma carícia, e chamaste-me desajeitado. Olhei-te de longe, e não entendia se aquilo era sério. Parecias tão severa contigo própria... e distante… Pelo menos quando estava por perto. Quando te via ao longe, olhavas-me paradoxalmente de forma tão terna e pura… Depois coravas, olhavas para o teu lado, e fingias um ar sério. Mas motivada por qualquer força aparente, voltavas
de novo a olhar em volta. Eu era o pior. Fingia fixar o vazio, justamente por detrás de ti, e escondia-me cobardemente. Tinha medo dessa sombra que pairava tantas vezes à tua volta. Apetecia-me simplesmente levantar voo e chegar até ti. Mas não. A farsa manteve-se. Continuei a fingir que não te via, e quando pensei que te esquecias, levantei-me e saí. Voltei lá um dia. Sentei-me na mesma cadeira, e imaginei ver-te, à mesma distância. Mas algo tinha mudado para sempre. Os três curtos passos que nos separavam estavam há muito intransponíveis. Porque penso eu nisto? Definitivamente… Estou a ficar louco..!

Gumes - Mão Morta

MÃO MORTA
Álbum: Nus
Gumes
[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]



1.
Na noite que se avizinha, um mar de gatos com cio invade os sotãos, ensanguentando as memórias com a dor pungente dos dias em que o gume, o terrível gume das horas afiadas, rasgava os espíritos. Já o clarão das ruas toldava os cérebros com angústias venenosas e vertigens de suicídios sonhadores, na vontade de fugir ao inóspito vazio do tempo da ausência...


2.
Acção!
Isto é um assalto!...
Todos de mãos no ar!
Não quero nem um gesto...

Passa p’ra cá esse vil carcanhol
Para irmos daqui sem funerais!...
Anda homem ou és um caracol?!
Não quero ficar aqui à espera dos maiorais...

(Vai junto à porta ver se o caminho está livre para a nossa saída...)

No chão! Quero toda a gente no chão...
Assim!... Vamo-nos pirar!...
Já!


3.
Eu sou estas mãos que se fendem na areia como um velho pau
A serpente que se arrasta o corpo em assaltos ao olho do cosmos
Tudo vem a mim a escura escama dura dos monstros do fogo
Um ventre de rei em corcel alado de freio nos dentes
Flash

Aí está Stanislau
Belo como estrela do mar gigante em asilo de lepra
A tirar a espinha às horas
Vem
Vem
Vem
Flash

Flores carnívoras passam sua língua no ventre do lacrau
Os seus lábios grossos deixam escorrer o esperma quente
Prova a minha orelha
Prova o meu caixão
A morte ronda
A vida cresce
Floresce
Flash
Amanhece


4.
Estou farto disto
Não posso mais
Todos os dias
Passam iguais
Como um fantasma
Com escorbuto
Corro a cidade na busca de um xuto
Speed ou heroa
Coca ou morfina
Tudo me serve
Como vacina
Desde que traga a santa narcotina
Furam-me os ossos
Caem-me os dentes
Reflicto ao espelho sinais indigentes
Mas o pavor
É da ressaca e da dor

Já desvairado
Com tanta volta
Sempre sem ver
Poda ou recolta
Fico em suores
Vem-me a carência
Sinto-lhe a mão sem qualquer clemência
Pica-me as pernas
Prende-me as costas
Fere-me os tímpanos
Em dores expostas
No rito ansioso do coçar das crostas
Não posso mais
Tudo o que eu quero
É ver-me livre deste ruim desespero
Um caldo tal
Que seja um ponto final


5.
O rei mimado está
Feliz e sem rival
E verte para mim
Cem gotas de água e sal
Aos saltos e pinotes
Percorre agora o chão
Mas pára p’ra lutar
À vista de um dragão
Batuques e tambores
Ilustram o combate sem dó
Alguém me afaga a lã
Me puxa num trenó
Me leva na manhã
Do sol-e-dó

Acordam os amores
No reino da paixão
São elfos e duendes que
Nos levam pela mão
As folhas são azuis
O sol vermelho está
A relva sua e diz que
A vida é um sofá p’ra gozar
São monstros de cordel
Histórias de encantar
No espelho de Babel
A festa não tem fim
Volteia agora o vento
E eu peço um gin


6.
Vamos lá então juntos recitar
Este belo acordo que nos vai ligar
Juro pela vida nunca me trair
Juro pela vida sempre resistir
Juro pela vida nunca obedecer
A qualquer vontade fora do meu ser
Juro pela vida sempre acreditar
No poder sagrado que nos faz amar
Juro pela vida sempre contrapor
O valor da festa contra o tédio em vigor
Juro pela vida todo me entregar
À paixão do jogo do corpo e do criar
Radical radical radical
Hei-de ser no agir no pensar
Só na luta há festa só na luta há gozo
Para ter um destino aventuroso
Eis o Graal nosso Graal

O mundo é nosso vamos a ele

O mundo é nosso não há que ter medo

O mundo é nosso vamos com ele brincar


7.
- Ouviste o que disse o aquecedor?
- Como?
- Repara na luz. Repara como muda de intensidade... Está a dizer qualquer coisa!
- Mas isso é um aquecedor, não fala!!!
- Shut!... Não ouves o murmúrio?... Está a dizer qualquer coisa!
- Mas isso é o barulho da electricidade a passar...
- Shut!... Escuta!...
- Deixa-te de tretas. Vamos embora!
- Não posso.
- Não podes?!?...
- Tenho de ficar ao pé da luz. Está a querer dizer-me qualquer coisa! É importante!...
- Importante?!? Ainda acabas é na Casa Amarela a apanhar choques eléctricos...
- Pois eu acho que há aqui uma entidade qualquer, um ser de outra dimensão, uma energia cósmica, a tentar estabelecer contacto comigo... Repara no cintilar, nas pequeninas explosões de luz... Isto não é electricidade!
- Não!... Isso não é electricidade... São miolos a fritar!
- O quê?
- Disse que tens os miolos a fritar. Deve ser do calor...
- Por acaso estou cheio de frio!... Não queres ligar o aquecedor?
- Mas tens o aquecedor no máximo! Nem sei como não te queimas, aí tão perto...
- Shut!... Escuta!...
- Bom, vou-me embora! Depois conta-me o que te disse o ET...


8.
Assomados, com o andar titubeante das vítimas da realidade absoluta, desfalecemos em convulsões de electrochoque no turbilhão da engrenagem triturante que nos transportou em sucessivas oscilações sísmicas para o apaziguamento da indiferença e o amargo isolamento da solidão. Nada é o que era, nada foi o que sonhamos, apenas visões esfumadas ao contacto da memória, apenas imprecisas impressões de um tempo gasto pela usura. Tivemos o mundo, fomos o mundo...
Salve, cadáveres brancos da inocência!
Salve, corpos belos do amor!
Salve, feiticeiros da embriaguez permanente!
Salve, magos da existência não fragmentária!
Salve, pederastas do desejo, junkies do caos, prisioneiros da liberdade!
Salve, irreprimível lúdico!
Salve, criadores de vida, amantes da infância, viciados do presente!
Salve, orfãos perdidos!
Salve! Salve! Salve!

Imaginação

- Ás vezes dou por mim a imaginar como seria beijá-la...

- Hum... Acho que este método não está a resultar...

Consciência de Um destino Normal

-Mas que está o senhor a fazer?
Sabe muito bem que ela irá acabar por ficar com ele,
e deverá passar uma bela vida, cheia de normalidades...
E o senhor, por seu lado, a continuar nesse caminho,
também não se poderá vir a queixar de sua sorte...


-Se é assim tão simples,
porquê então indomável pensamento,
gritos das profundezas escuras e misteriosas
ressurgindo do dentro,
com tamanha violência e obscuridade?

Continuo a quere-la e deseja-la..,
de forma ansiosa e doentia.
Penso..,
demasiadas vezes,
e demasiado tempo.

E fico extremamente nervoso,
quando escuto os ponteiros do relógio.
Assustado, mas semi-conformado, assumo.
Nunca vou poder contempla-la plenamente...




-Sim, mas também tem consciência que a paixão é relativamente recente, e com o tempo deverá passar...


-Muito provavelmente...

Mas mesmo assistindo ao certo desfecho..,
e a esta distância,
do caminho diferente,
continuo a sonhar muito com ela
e a deseja-la intensamente...

Talvez ela própria saiba,
e pense nisso com regularidade.
Pensará ela também?


-Vou-lhe ser sincero. Se o senhor hoje não sabe, temo que nunca chegará a sabê-lo.

A Carta

- Escrevi uma carta enorme para ela, era mais um pedido de desculpas sabe? Mas escrever cartas daquele tipo... Por muito ridículas que sejam, como todos esses tipos de cartas... Não vale a pena. Mesmo que ela o viesse a ler. Mesmo que noutro fundamento, tempo ou local próprio...

- Nâo deve ter sido tão irresponsável, ao ponto de ter divulgado isso.., espero eu.

- Acha mesmo? Seria absurdo.

Há Tempo...

Podia jurar que era ela. De branco, ou não, era rosa, azul não. Ficam-lhe bem as cores... Aquele olhar... Era ela, sem dúvida. Página branca com tons de azul. Tonalidades. Cruzadas. Gosto muito. Não, a alma. Claro que escreve. Os sítios parecem indiferentes. Diferentes. Não, são iguais. Mas afastados. Diferente das outras páginas... Já não passava... Há tempo? Precisava. Ansiava. Maldisposto? Comprimidos... Tenho procurado. Á noite. Pelas colinas, e pelos grandes vales profundos. Ia com os meus amigos. E os teus? Custava alguma coisa, fodasse? São amigos? Ela ou eu... Não, fui eu. Sou uma merda... Bastava engoli-los. A merda do orgulho e do preconceito... Nem que atestasse a alma... Queria embebedar a cobardia. Poder escapar. Escapei? Sim. Não merecemos mais do que isto? Cumprir uma vida de merda das regras? Á risca? Era, não era? Queria cagar para tudo, e fugir... Sozinho? Não. Ela. A vida é uma merda. Não é? O que fizemos com ela..? Uma grande merda... Os nomes provocam confusão. Sim. Sou o confuso. Queria partir agora. Havia algo que batia certo. O tempo. Depois? É tarde. Agora. Também. Onde estará ela agora? São só nomes. Nunca os consegui decorar... Eram cinco. Não é importante. É? Da outra forma parece não fazer sentido. Desta também não. Mas não eram contas fáceis? Desta distância. Sim. O tempo. Deixa/ou-me dormir? Contexto? Encadeamento? Tempo? Sentimento. Sentidos. Dificuldade em associar planos? Tu? Não sei. Eram dois, simples. Um mais um dois, menos um, nós. Parecia. Acordei agora, sim. Comprimido? Ás vezes... Penso. Muito. Demasiado pouco. É esquisita, triste, distante... Preconceito. Os outros. Eles. Nós? Há tempo... O quê? Agora. Sim. Imaginei-a. Sedantes. Almantes. Escuto. Escuro. Fachada. Sempre fechada. Sim, sim era directo, mas muito pouco. Com ela. Certeza da incerteza. Coração podre. Poeirento, bolorento. Está vivo, pois parece que já não devia. Memórias decadentes... Remorsos inerentes... Doçura, expressões, delicadezas, inocências... Sonhos... Penso. Fumo. Fumo, penso. Faz mal. Aos pulmões. Mas dá prazer. Dói-me o estômago. O tempo. Aparece-me. Mais forte. Já não a vejo... Falava com ela? É inconsciente. Não consigo. Parece-me. Aparece-me. Do interior. Do nada. E o tempo? Continua. Na caverna. Raízes? Não, foi pouco tempo. Juntos? Não. Pois... Devo-lhe confessar... Queria desculpas. Sim, desperdicei todas as desculpas. Pedir desculpas? Devia? Coitado. Confusão. E devo confessar que não. Agora. Penso nisso. Não era por mal.., não sei.., pensava. Mas não parecia. Suficientemente. Como uma pancada. Forte. Fugaz. Farto. Egoísta. Tem toda a razão. Também eu. Nunca foi minha intenção. Sair, fugir, explodir... Esperar? O tempo. Deve estar tudo bem agora... Estará? Há um prisioneiro fechado numa cela. Pensará? O tempo. No cativeiro. Longe? Muitas caras. Aquele olhar... O meu? Não, será... Dúvida. Persistente? Incoerente. Uma espécie de imagem. Ausente. Dela. Os dois? Fachadas. Fechadas. Não, olhar, olhou. Eu? Não. Sim eu sei que não devia... Era inocência. Aquele olhar... Íman. Alarme. No primeiro dia... Há muito tempo. Sim, o tempo. Cruzei-me com ela. Perto das escadas. Nas grandes de pedra. Saiu.. Estranho, instantâneo impulso. Olá! Era tímido. Não sei... Sim, era. Sou. Normal? Realmente... Linda. Tinha cabelos longos. E claros. Nessa altura. Acreditava? Coisa impensável. Racional. Na altura... Agora? Aquele olhar... Não sei... Ciúmes... Roía-me de ciúmes. Reetirei. O Tempo. "Mea culpa"? Não resolve. Só adia. Nada espero... O resto? O quem? Está bem... Desculpas. As minhas? Rotas. Ambição? Não. Nunca. Isso nunca. Mágoa. Ela. Desculpa? Sim, na altura... Pretexto. Ponte. Para ela. Partiu. Por ela? Por mim? Sim. Por mim, por ela, por tudo... Tão longe. O rio é grande. Estúpido. Arrogante. Insensível. Comovido. Fudido... Estava magoada. Estava? Gostava? Sim... Era ela...Agora tenho a certeza que era ela. Era branca.., e azul... Sim, adianta... Perdoa-me... Por ter desaparecido, por ter reaparecido, por ter mentido, por ter falado, por ter faltado, por ter saído, por ter esgotado, por ter enganado.., o tempo... Há tempo? Há dúvida? Sem dúvida. Eras tu. E aquele olhar... O olhar... Viste? Amo-te...

Busca

Apetecia-me salvá-la
daquele destino padrão,
liberta-la da frieza e vazio daquele castelo,
e trazê-la para aqui,
para junto de mim...
Descobrir com ela todos os limites do universo..,
de um outro,
de um outro lado...

Não. Acho que no fundo queria apenas salvar-me a mim próprio...

Aviso



A todos vós,
progressistas, politicos, cidadãos, tecnocratas, trabalhadores, liberais, partidários, corporativistas, decisores, investidores, responsáveis, empresários, vigilantes, juízes, decisores, construtores, estudantes, alunos, professores...
Quero aqui desde já avisar...
Não nasci para ser escravo.
Prefiro mil vezes o prazer
nasci para viver
nasci para crescer
para ser livre
não para desperdiçar a vida a trabalhar...

Queria-te Ver...

Insatisfação d' alma...
Desejo fortemente reprimido..,
de a querer voltar a ver..,
sonho acordado..,
e acordo imaginando...
Como queria estar com ela..!


Insatisfação d' alma...
Desejo fortemente reprimido..,
de a querer voltar a ver..,
sonho acordado..,
e acordo imaginando...
Como queria estar com ela..!


O amor não surge por magia, mas sim por tentativas...

Devido, a algumas reacções feministas, de resto com alguma razão de ser, urge esclarecer alguns pontos acerca das minhas convicções e filosofias de vida. Ao contrário do que se possa pensar, não tenho uma visão machista do mundo, e muito menos materialista das mulheres. Todas têm os seus encantos e qualidades (também defeitos), todas têm o seu charme, a sua chama, todas têm o seu encanto e mistério. Todas são uma caixinha de surpresas, um tesouro imenso a descobrir. Acontece que muitas delas me despertam curiosidade, interesse, desejo, interesse de descoberta. Vontade de desvendar aquela fachada exterior, que nos vai dando imagens, pistas sucessivas obre o que verdadeiramente compõe o interior daquela imagem, à medida que nos vamos cruzando e desfilando neste imenso e grandioso palco que é a vida.

Numa análise mais vasta, não são só as mulheres que nos despertam esta curiosidade, este interesse de saber o que vai no mais íntimo da pessoa, no interior de certa alma. Esse fascínio é normal em todos nós, e é de facto saudável. Com todos se aprende um pouco mais, não só acerca desses espíritos mas simultaneamente do ser humano em geral, de nos próprios em particular. A mim fascina-me profundamente, e grande parte do que sou hoje em dia, foi retirado e construído da mediação entre a interacção permanente com os outros, e comigo próprio. Toda a minha vida, especialmente desde ganhei essa liberdade e adquiri a possibilidade de o fazer, que tive o cuidado de escolher escrupulosamente os indivíduos que mais admirava, e com os quais sentia que tinha mais a aprender. Ora isto tanto vale para homens como para mulheres. Para jovens da nossa idade ou para exemplos um pouco mais velhos. Mesmo dos familiares, conscientemente ou não, retirámos a experiência e em geral, e os aspectos que mais gostamos em cada um deles.


Ora isto é tanto ou mais verdade com as mulheres. Contudo, neste campo as coisas adquirem um especial sentimento, um especial magnetismo que nos faz pôr a razão pura de lado, e nos obriga a verificar que há algo de mais poderoso do que o simples raciocínio nestas escolhas. Mas apesar disso, há sempre um fundamento racional, nesse sentimento irracional, que o nosso subconsciente lá despertou e transformou em atracção. Provavelmente dai vira, numa analise feita de modo superficial e ligeiro, o encanto e o interesse do poderoso jogo da atracção. Pelo menos eu funciono assim. Quase todos os dias sinto essa reacção dentro de mim. Todos os dias me sinto tentado a olhar para belas e interessantes mulheres. Todos dias me sinto atraído por elas enquanto me cruzo, enquanto as olho, enquanto ouço, enquanto falo, enquanto interajo com elas ou mesmo quando me limito a observar de forma passiva. Todos os dias me apaixono. Embora haja claro, algumas que me despertam um sentimento mais poderoso e mais forte, que me faz deseja-las permanentemente, mesmo quando não as vejo ou estou com elas. Pelo menos comigo sempre foi assim, e penso que sempre será, ate ao dia em que, de naturalmente, e volto a frisar, de forma natural, espontânea e progressiva deixe de o ser.

Ora será isso impeditivo de um dia vir a amar alguém, ser fiel, e ter uma relação estável? Na minha opinião são duas coisas humanas e perfeitamente compatíveis. Não esta nos meus ideais trair alguém quando me comprometo a não fazê-lo. No sentimento verdadeiro não é isto uma promessa ou uma obrigação, mas antes uma convicção, plenamente assumida, como alias já tive a oportunidade, embora ligeira e temporária, de sentir. E se digo temporária aqui, e por sinceridade e não por hipocrisia. E evidente que a vida é um contínuo rodar de película, e nunca se sabe o que a próxima cena do guião nos ira reservar. Como tal não acredito em promessas eternas, embora não admita que elas não possam acontecer. Acontecem de facto, e e bom acontecerem. Mas não acontecem por acaso nem por milagre. Não acontecem nestes moldes de promessa eterna com uma venda nos olhos, sem qualquer background prévio, e como tal sem saber o que nos reserva o amanhã. É preciso querermos e desejarmos com muita intensidade estar com essa outra metade diariamente, e fazê-lo de forma natural e saudável. E se isso não acontece nas primeiras tentativas, nos primeiros tempos, ou nos primeiros personagens não é defeito de ninguém senão dos nossos complexos e dogmas sócias. Deve ser um processo contínuo, livre, despreocupado, aberto, flexível e aceite de forma natural, espontânea, voluntária e progressiva. Nunca uma tentativa de querer que as coisas aconteçam por magia, num curto espaço de tempo, e ás primeiras tentativas, nas primeiras relações. Deverá antes ser antes atingido por tentativa e erro. Tentativas concretas e consumadas, e não ficções imaginárias, hipotéticas, platónicas. Não deve haver medo de arriscar, de experimentar, de vivenciar, nem depois deverá haver um complexo de dever, de subserviência, de aceitação de resignação. É preciso testarmo-nos a nós próprios e aos nossos limites, bem como aos outros, nas mais diversas situações. E se não nos completar, se não nos satisfizer, se não nos realizar, não há que ter qualquer problema de consciência para connosco ou para o nosso parceiro/a, pois o balanço a retirar no final será sempre de satisfação de alegria, por mais experiências de vida registadas (na primeira pessoa), por mais recordações positivas, por mais bons momentos passados, que nos realizam e enriquecem sempre. Crescemos e aprendemos não na teoria, não no plano imaginário, hipotético, não isolados dos outros, do mundo e de nós próprios, mas sim pela mediação do eu com o outro, com a situação concreta, com o cenário real, que não há que temer mas sim que desejar e levar a cabo.

Como poderemos então nós adivinhar quando chegará esse momento, esse alguém especial, em que vamos deixar de desejar viver essas situações diferentes e diversificadas, e sentir a necessidade de abdicar de todas elas até sentir a necessidade de perpetuar uma em concreto? Qual será então esse momento em que nos vamos sentir assim de forma espontânea, e ter a certeza que a nossa busca estará terminada, pelo menos até certo ponto? Esse sentimento a que chamam amor? Quanto tempo demorará esse processo, esse ciclo de conhecimento e de aperfeiçoamento de nos próprios e dos outros? Quando saberei eu que estou perante a pessoa certa? Quantas relações serão necessárias até saber que cheguei esse nível? Quanto tempo terá que durar cada relação até chegar ai? Durará seis dias, seis semanas, seis meses, seis anos, seis décadas? É uma incógnita, e nunca se poderá adivinhar o futuro. Ignorante e inconsciente será aquele que diga o contrario, por muita que seja a sua vontade de que isso de facto se realize. Por isso a solução simples será sempre a de não ficar parado e não ter medo de arriscar. É a pratica que conduz á perfeição, é pelas tentativas praticas que se chegara ao amor perfeito e não o contrario, pois só aí as partes terão bagagem suficiente para saber como agir nas mais diversas e complicadas soluções. Para alem do mais já se conhecem as dificuldades.

E qual será a melhor forma, agora falando em concreto, para atingir esse estado pleno? É errado conhecer pessoas, interessarmo-nos por outras seres como nós, apaixonarmo-nos por elas, ter casos românticos ou não por quem sentimos especial interesse? Por quem nos atrai? Por quem nos sentimos identificados? Por quem nos fascina? Por quem nos seduz? Por quem nos faz despertar em nós os nossos mais profundos impulsos e sentimentos? Por quem queremos descobrir como a um tesouro, desvendar como um segredo? A quem queremos tirar a máscara social para conhecermos verdadeiramente, a ela e a nós próprios? Com quem queremos partilhar a nossa vida, o nosso íntimo, o nosso ser, a nossa cama? É errado fazê-lo? Porquê? Por um receio ridículo? Por um complexo social? Por um trauma qualquer do passado? Por um medo cobarde dos outros, e de nos conhecermos encontrarmos a nos próprios?

De facto, todos estes factores têm nessa escolha um relativo factor, mas o principal problema aqui e apenas e só o medo de assumir um compromisso. É que na nossa cultura ocidental, envolver-nos directa e intimamente com outra pessoas significa (embora não se assuma logo à partida, mas esta implícito) assinar (embora de forma não objectiva) um contrato prévio que nos obrigue a prometer compromisso amor eterno, bem como de fidelidade (aqui tomada no seu sentido mais radical). Ao invés, isto deveria ser sim um compromisso apenas de descoberta de prazer mútuo, apenas no momento presente, retirando daí o máximo de prazer e deixar o tempo ditar o futuro, os sentimentos, e ate o tipo de relação sem definir nada previamente. Ambos poderiam conhecer o outro, viver momentos memoráveis, e deixar tudo o resto indefinidamente para trás das costas, ate que o tempo de forma natural ditasse o desfecho da situação. Ao invés as pessoas preferem ficar sozinhas, frustradas, abandonadas e infelizes sem nunca sequer chegarem a saber, como seria realmente beijar aquela pessoa, passar uma quantidade apreciável de tempo com aquela pessoa, sentir aquela pessoa, dormir com aquela pessoa, e conhecer os seus segredos. Só assim se conhece verdadeiramente. E se não resultasse partiria para outra, com mais conhecimento que lhe iria ser útil. Levariam sempre pelo menos uma boa dose de recordações e sentir-se-iam vivas e plenas. Mesmo que essa busca decorresse durante, se tal fosse esse o entendimento entre os dois, porque não? Num plano de poligamia até, num caso extremo, seria perfeitamente aceitável. Desde que claro com o perfeito conhecimento da situação e dos termos entre as partes e sem quaisquer segredos. Não só seria possível, como saudável, e daria a cada um de nos, a possibilidade de ganhar alguém, não pelo compromisso forçado, mas através da plena, sã e testada vontade de escolher até, depois uma delas, se fosse caso disso. Com igual procedimento entre os dois parceiros, ou não, se tal fosse a sua situação com consequente aceitação.

Se queremos descobri-las, desvendá-las, passarmos momentos de felicidade com elas, ao mesmo tempo que vamos as vamos enriquecendo e a nós próprios? É mau passarmos por experiências juntos com pessoas, ter acesso a um pouco do seu universo interior, abrir a caixinha de surpresas que tanto nos fascina e tanto nos impele a descobrir? É mau partilhar experiências com alguém que nos fascina e atrai profundamente? É mau se nos sentimos tentados a beijá-las, a amá-las, a ouvir os seus mais secretos pensamentos, as suas ideias e convicções, os seus traumas de infância, os seus complexos de adolescência, os seus momentos de alegrias e de felicidade, as suas narrativas hilariantes, os seus medos e receios, os seus problemas e dificuldades, os seus sonhos e planos? É errado isso? Então porque não? Então porque somos nos cobardes e hipócritas ao ponto de nos privarmos de tudo isso, para permanecermos fechados no nosso próprio mundo, com barreiras fechadas a volta de cada um, porque vivemos numa sociedade constrangedora, que nos transforma a nós seres humanos, com essas necessidade natural de estarmos em permanente contacto com os nossos semelhantes, especialmente com aqueles pelos quais mais nos interessamos, mais nos fascinam, ou mais desejo de descoberta nos provocam? Que merda de sociedade hipócrita é esta? Que merda de pessoas acreditam e sustentam este sistema artificial, cruel, castrador e inumano? E que merda de protocolos e de regras sociais é que temos? Que merda de educação recebemos nós? Que merda de influência é exercida sobre isto, quais os seus meios e repercursões? Não será de ignorar decerto a inluência rígida e conservadora da religião feita de modo directo ou indirecto, que interfere claramente na educação dos jovens e que é depois alimentada por leis e organizações sistemáticas, promovidas e sustentadas por um pequeno grupo social adepto da tradição e dos "bons costumes", e que nos vai ditando as regras. Mas porquê este quadro? Porquê este modelo padrão, e porquê a nossa resignação social em aceitá-lo?

Contudo as coisas estão a mudar aos poucos, e felizmente diga-se. Passou a haver divórcio. Passou também a haver também um conhecimento mais completo e aprofundado das pessoas antes desse contrato cego (na maioria dos casos) que é o casamento, e começa-se a assistir igualmente ao fenómeno das relações de facto, que no meu ver terão bastantes mais hipóteses de sucesso, não necessariamente a nível de duração (mas também), como ainda a nível da obtenção de um maior grau de felicidade. Nestas relações ninguém é obrigado a estar porque se comprometeu, mas sim porque o deseja plenamente, e está satisfeito com isso. Quando, e se, chegar o momento em que não seja esse o caso, pode sempre optar por terminar o relacionamento e partir de novo em busca da sua felicidade. No fundo, o que está na base ultima de tudo isto, e a nossa pré-programaçao para procriar os nossos genes, nomeadamente através de um filho, e isto sim, poderá ser um vínculo determinante. Contudo deverá ser este factor a ditar o início e o fortalecimento de uma relação e não o casamento, que o provoca por consequência dessa primeira escolha. Na nossa sociedade, quantas vezes a primeira situação provoca por arrastamento e uma certa conformação a segunda, ao invés de ser esta última a mais importante? E isto numa análise estritamente racional e evolucionista, pois sabemos todos bem que não e assim tão simples. A juntar a isto existe o sentimento do amor, e numa escala inferior a este, a paixão. Ainda descendo mais, podemos chegar a um sentimento de afecto, descendo ainda mais de empatia, e num plano abaixo, aquele sentimento de comunhão, de descoberta, de convívio puro, motivado pelo nosso fascínio de conhecer o outro. Se formos ainda dissecando mais por baixo, este último é quase sempre antecedido duma forte atracção, que pode ter ou não por origem uma amizade. Será a vulgarmente designada amizade colorida.

Ora o problema põe-se justamente neste ponto. Na passagem deste estado de atracção, em que não há nada mais do que um falso e deficiente conhecimento sobre a aparência (não só exterior dessa pessoa), para um estado de verdadeira partilha e conhecimento mútuo de ambas as personalidades. É neste ponto que a nossa educação e a nossa sociedade nos restringe e nos impede verdadeiramente de sermos humanos e de nos realizarmos enquanto indivíduos marcados por uma necessidade de preenchimento a todos os níveis, pela outra cara metade, na maior parte das vezes pelo homem ou pela mulher, não sendo sempre assim nesta visão heterossexual nem tendo de ser. A haver um passo, a sociedade tradicional impele-nos a dar um passo gigante, um passo abismal, para a situação de namoro, que é (como ponto exclusivo de compromisso a que me quero referir) semelhante na sua forma ao contrato de casamento. Nomeadamente no que diz respeito ao compromisso rígido, à promessa de fidelidade eterna (noção que aliás é discutível, e muito subjectiva de acordo com as convicções de cada um), e de compromisso assente, eterno e estável, que na realidade nunca chega a sê-lo. Defendo sim, uma liberdade de interacção e de convívio (até mais íntimo) antes de qualquer compromisso, que devia ser feita numa perspectiva mais alargada e descomplexada do que acontece hoje em dia, a fim de conhecermos bem as outros e a nós próprios, e enriquecermos as nossas experiências de vida. Apenas em certos casos, e mais especificamente, a partir do momento em que fosse registada uma forte empatia, que se desenvolvesse e desse origem a uma forte paixão, se deveria prosseguir na escala atrás descrita, até a um ponto tal de amadurecimento da relação, que fosse desejo de ambos abdicar deste ritual de procura, de sedução, e assumir um compromisso tácito (já consumado pelo tempo aliás), de no momento dedicar-se exclusivamente de corpo e alma àquela pessoa, tendo apesar de tudo como factor de peso, o bem estar presente (do dia de hoje, e não de ontem ou de amanha) de ambos, e não do contracto que dá pelo nome de compromisso.(cont)

(para ser continuado/ Desde ja as minhas desculpas pelos erros, porque não tive tempo de o reler)

Um bom exemplo desta necessidade premente, e da evolução neste sentido é a crescente popularidade da modalidade do swinging entre casais, embora esta seja na minha opinião feita segundo procedimentos mais rígidos e mais claramente definidos e limitados. Para além do mais é praticada depois de assumida uma relação, quando se presume que já há amor e um estado que deveria ser pleno, de estabilidade, felicidade e realização. Quem sabe se não surge por falta de um período de descoberta, como aquele que este texto refere. Ainda assim é de saudar.
Contudo, se feito algo do género noutros moldes, mas assente sim na liberdade de ambos, numa fase de experimentação, sem uma relação séria e que poderá ou não prosseguir no futuro, seria sem dúvida mais natural.

O texto será terminado e colocado aqui neste mesmo post. Não houve tempo para mais, mas há muito mais a dizer, e não era só aqui que queria chegar. Há que concluir a ideia. Mas no fundo, o que interessa é procurar a felicidade, e não nos resignarmos aos ultrapassados e incorrectos protocolos sociais, que nos impedem de irmos vivendo, e de nos conhecermos melhor e aperfeiçoarmos enquanto pessoas. A minha maior e mais intensa duração, começou com as designadas “curtes”, e com o tempo adquiriu uma dimensão tão forte que o último beijo foi dado 6 anos depois do primeiro. Pelo meio houve outras coisas, que em vez de a diminuíram, só a fortaleceram. Se não resultou, foi precisamente pela experiência que fomos ganhando, e que nos diz para nos irmos sempre aperfeiçoando e experimentando, até chegar o momento e a pessoa que noz faz pensar que é aquela, que chegámos lá. E depois, todo o vosso percurso de vida não terá sido um desperdício, mas ao invés um instrumento útil, que vos permitiu chegar, e se conseguirem manter, a essa situação presente. É mesmo assim, só não vê quem não quer. Amor à primeira vista é um mito, um conceito utópico. É sim uma boa indicação para avançarem e irem ao encontro dessa pessoa, para conhecê-la realmente, e a vós próprios.

Boas abordagens!!!

Devia andar com o cio, a puta...

Isto anda a começar a correr mal. Estar fechado em casa não me anda a fazer nada bem. Ainda por cima, amanhã não há aulas. Ontem fodi um joelho a jogar futebol, e ouvi notícias daquela cabra. Hoje é a puta da minha ex que se lembra de me ligar às três da manhã, quando eu já tinha dado graças por ela nunca mais me ter voltado a incomodar. Deve andar com o cio, a puta. Não atendi como é óbvio. Já não falo com ela desde que lhe virei costas, pela última vez. Foi há cerca de ano e meio, semanas depois de ter ido parar ás urgências do Hospital, por causa dela. Levei uma sutura de três pontos ligeiramente acima da pestana, e não fiquei desfigurado, por uma sorte dos diabos. Quando nos apercebemos subitamente de alguém a vir em direcção a nós para nos tentar espetar uma chave dentro do olho, fazemos um sério balanço á nossa vida. O ódio que senti nessa altura por ela, e também por mim próprio, foi tanto que não há palavras que consigam descrever. Nem sequer chegar lá perto.

Lembro-me como se fosse hoje. Depois de estar quase um mês em casa, desesperado, a pensar que a minha face nunca iria voltar a ser a mesma, o hematoma e as cicatrizes lá desapareceram por completo. No final fiquei apenas com uma ligeira cicatriz dos pontos, que mal se nota. Suficiente para quando me olho de muito perto ao espelho desejar vingança. Mas já desejei mais. O que mais desejo agora é não pensar mais nisso. Consegui recuperar a minha alegria de viver. Se continuar com a merda dos toques, juro que meto uma queixa crime na polícia, ou ameaço-a de morte. Não sei, muito sinceramente o que vai naquela cabeça de vento. Já devia estar farta de saber que comigo nunca voltará a ter a mínima chance.
Não sei porque razão não me deixa em paz de uma vez por todas. Está a chegar a primavera, e deve andar com o cio, a puta. Se me volta a chatear, não sei o que faço...

Chamava-se Vânia. Por várias vezes, me disse que conseguia sempre ter o que queria. Eu, pelo contrário sempre lhe disse que não era bem assim. Não passava no fundo, de uma menina mimada. Dizia que eu era o homem da vida dela, e que fizesse o que fizesse, haveria de acabar com ela. Sempre lhe disse que não acreditava nisso. Nem que fosse a última mulher deste mundo. Preferiria mil vezes dar um tiro na cabeça, a ter de ver novamente aquela puta, se não tivesse outra hipótese. Mas tenho. Uma vida pela frente, cheia de potenciais hipóteses. Ela é que já deixou de ser hipótese há já muitos anos. Nunca lho escondi, mesmo das últimas vezes que tive com ela. Se nunca o aceitou foi porque não quis. Hoje tenho a certeza que não a amo. Acho que nessa altura já tinha. Mas não sei porquê, mesmo depois de ter acabado definitivamente, há cerca de cinco anos, acabávamos-nos por nos voltar a encontrar quase sempre por alturas da primavera, ou do verão. Começava tudo com simples toques de telemóveis. Daí a combinar o reencontro era um passo. Até sei porquê. Pelo sexo. Pelo vício. Pelo simples prazer carnal. Não havia dia sem briga, e não havia semana sem rompimento e reconciliação. Só nos dávamos bem na cama. E que bem! De todas as vezes que mandávamos uma, tínhamos a sensação que seria a última. Fodíamos loucamente sempre como se fosse a nossa derradeira vez juntos. Como tal, queríamos que fosse perfeita, e que não acabasse nunca. Sabia-me particularmente bem foder com ela! E nunca foi o meu tipo de mulher. Nem física, nem psicologicamente. Mas não sei porquê agradava-me e fazia-me sentir muito bem Especialmente na cama, marcava pontos e arrasava a concorrência. Teve um bom professor, eu. No fim da sessão, deixavamo-nos adormecer já sem forças nos braços um do outro, e acordávamos na manhã seguinte. Mas todos os dias pensava em sair dali. E nunca lho escondi. Talvez por isso fosse tão incendiado, tão forte, tão intenso. Contudo ficava sempre com a consciência de que tudo aquilo era um erro, e que nunca daria em nada. Andava-me a enganar a mim próprio. A Vânia não acreditava. Não queria acreditar. Era demasiado egocêntrica para aceitar isso. No dia seguinte eu planeava partir, mas acabava por ficar. Era só mais uma, pensava eu. Da última vez, passou-se isto diariamente, durante meses...


Depois de estar recuperado, e de me conseguir voltar a olhar ao espelho, fiz as malas, e arranquei. Aquele mês tinha sido um dos piores, senão o pior da minha vida. Estávamos em meados de Novembro, e por esta altura, em circunstâncias normais já estaria em ****** há mais de um mês. Arranquei feito doido em direcção a Lisboa para ir buscar o resto das minhas coisa. Vivia com ela há quase seis meses, mas sempre com a certeza de nunca voltaríamos a assumir uma relação normal. Subi com as minhas chaves e entrei abruptamente pela casa dentro. Ela já sabia o que eu vinha fazer. Assim que entrei, fixámos olhares e não trocámos uma palavra. Eu ainda tinha vestígios de sangue no interior do meu olho direito. Sabia que a odiava mais do que nunca. Avancei em direcção ao quarto. Peguei nas minhas malas previamente arrumadas por ela, espreitei uma última vez para a magnífica vista para o Marquês de Pombal, do apartamento que eu lhe tinha encontrado, virei as costas e parti. Para sempre...

E até hoje não voltei a olhar para aquela cara, ou a ouvir aquela voz...

Maldita Droga

Parece mentira, como te consegui esquecer tão depressa.
Nem parecia que tinha durado um ano, esta obsessiva paixão platónica, a julgar pelo curto período de tempo em que se extinguiu. Um período de distância, a abstinência das drogas e o regresso a uma vida activa com um entusiasmo crescente pelo curso, e não só, contribuíram no conjunto para uma clareza harmoniosa e equilibrada do espírito que não imaginava alcançar tão facilmente nos próximos anos.

A tua ausência foi compensada pelo sucesso em outras frentes, e a bem dizer, o meu maior sucesso é já não me lembrar de ti, já não ter que me voltar a lembrar de ninguém. Já não preciso de correr. Agora prefiro esperar por alguém que passe e me pegue pela mão, quando seja essa a sua vontade. Não avanço muitos metros, mas gosto do calor das mãos de quem me pega. Sinto-me bem nesta posição. Lembro-me de como gostava tanto mais, quando não gostava. Não gostava mas por outro lado dava gosto. Seja como for, bastou-me um pouco de calor para me acender novamente. Um fogo exterior que não se nota, mas que me permite repousar confortavelmente no inverno. Bem diferente do fogo interior que me consumia e mantinha sempre frio, ao mesmo tempo visível e não me permitia parar por um segundo. Sair de casa também era impossível, lembro-me. Demasiado isolamento. Provavelmente foi esse o problema. A angustiante sede de auto-confiança embriagou-me. O termostato subiu demasiado. Não devia ter ficado tanto tempo fora de casa. Não me devia ter apanhado tanto calor num tão curto espaço de tempo. E como se não bastasse, quando me senti suficientemente quente, tinha logo de ir á procura daquela que estava mais longe.

Ainda me lembro de há umas semanas erguer a taça, satisfeito e ao mesmo tempo surpreendido com a facilidade da vitória. A normalidade fazia sentido. Hoje olho para mim, e rio-me ironicamente dos saltinhos ridículos, do sorriso estúpido de orelha a orelha, do meu ingénuo optimismo, da minha irreflectida alegria e boa disposição. Dos flashbacks dos momentos mágicos (insignificantes, mas infinitamente sobrecarregados pela droga que metemos juntos) que vou fazendo rodar continuamente pela minha cabeça, como injecções sucessivas de melancolia (e não só) que vou injectando compassadamente para não descer á terra por um minuto que seja. Os suspiros constantes confirmam o acelerado ritmo cardíaco. No alucinado mas ao mesmo tempo tranquilo cérebro, que parece repousar adormecido de tudo quanto é relevante, circulam milhares de imagens hipotéticas de puro prazer e deleite. Porquê ter de voltar a passar por isto? Porquê ter de me voltar a sentir tão irracionalmente feliz? Porquê desenterrar negligentemente o passado? Maldita a hora, em que voltei a sair contigo.
És mais viciante do que a própria droga...

Férias

Uma semana de férias. Durante estes dias assisti prepotente ao decorrer do tempo, chegando apenas agora à penosa conclusão que não fiz nada, e a minha suposta transformação não passou senão de uma ligeira maquilhagem que desapareceu pouco depois. Não serviu para enganar a ninguém, senão a mim próprio. E hoje o dia é de balanço e meditação. Os velhos vícios continuam presentes, e bem fortes. Apenas adormecidos. Meio entorpecido ainda pelo efeito das últimas substâncias tranquilizantes (naturais), olho para estes últimos tempos em que a minha libido triunfou em pleno sobre o meu espírito. Estimulado mentalmente (pelas substâncias e pela memória fresca), e de barriga cheia no que toca a tudo, observo e constato agora friamente, qual pseudo-intelectual esquerdista, que as minhas reacções têm sido semelhantes às dos pragmáticos tecnocratas de direita que têm um monte de merda no lugar do cérebro. Que a minha conduta de desligar o raciocínio e me deixar conduzir pelo meu hedonismo desenfreado, deve provocar uma ideia tremendamente distorcida da minha pessoa. O mesmo que dizer que quando solto as hormonas deixo atrás de mim um enorme rasto de destruição, e sem dar conta de nada. Não posso contudo dizer que tenha oferecido muita resistência, e numa análise a quente não me posso queixar de todo. Aguardava até pacientemente esta aventura, como uma necessidade premente. Precisava dela como de pão para a boca. E de facto não me vou esquecer tão depressa daquele sábado à noite. O reencontro com a Tânia, dois meses depois, não podia ter corrido melhor. Wild Night. "Fodasse, isto é que é sexo!", soltava ela... Faz bem ás vezes uma sessão de sexo puro e duro para ressuscitar o ego. Noite caída, à beira mar... Rebentámos as ondas em simultâneos, ponto óptimo, assunto resolvido. Desinibida e sensual o suficiente para me impressionar. Pedi-lhe um abraço apenas. Mas a sensação daquele afecto foi mais forte do que nós. Senti-me renascido. Sim, naquele dia pelo menos...

Domingo á noite de volta a ****** para ir ao curso e depois ao medico. Já ando para ir a esta consulta há três anos. Bom, parece que ainda não vai ser desta. Faltei. Levantar ás 5 da tarde não me deixa lá muito satisfeito. O reencontro acabou por ser melhor do que o inicialmente previsto, e a ideia era ficar calminho, e de cabeça leve para me virar para o que realmente interessa e que está em stand-by há mais de um mês. Não, não é nenhuma prima. São os livros e estão com saudades minhas. Quem também estava era a Raquel que me mandou uma mensagem na segunda à noite a dizer que estava sozinha em casa e para passar por lá. Assim fiz, e de lá saí no dia seguinte ás 20 horas da noite e sem nada no estômago. Soube-me bem. Especialmente a parte em que voltei a dormir acompanhado. Aquela mulher desperta em mim os instintos mais carnais. Há uma energia dentro dela que não é muito usual. Conseguiu-me manter na horizontal durante mais horas do que o recomendável. Tive de sair de lá que já estava a ficar preocupado, com as dores. Sedutora, corpinho ideal, faz umas massagens divinais. As coisas foram mais espontâneas e rápidas do que o normal. Foi muito bom, mas quando a esmola é grande... Numa parede do seu quarto tinha pendurada uma coleira na parede que serviria para me atar. Não gosto de coleiras, nem gosto assim tanto dela a bem dizer... embora goste muito de quartos e de convívio. Foi no mínimo, prematuro. Pertencera ao seu ex-namorado, com quem tinha dormido pela ultima vez há umas três semanas, segundo disse. Ele no entanto tinha namorada há uns meses. Escutei os trágicos acontecimentos do romance de faca e alguidar, mas não comentei. Seria meio caminho andado para perder a razão, e ir alegremente, qual teenager deslumbrado com a descoberta do prazer, aceitar a enfiar a cabeça na coleira. Fiquei sem perceber também muito bem o meu papel no meio de tudo aquilo. Acho que ela ainda o ama. Não me senti mal por isso. O telemóvel dela não parava. Nem nos meus dias mais frenéticos, consigo competir com ela...

Quarta-feira. Cruzo-me a Cátia Snob num estabelecimento comercial por acaso. Nem parecia que tínhamos saído juntos, há uma semana. Olá tudo bem? Xau, adeus. Cada vez percebo menos...
Sexta-feira. Cátia Snob decide mandar msg a convidar para café, depois de na última semana me ter calhado a mim, a iniciativa humilhante do convite formal que nunca ninguém parece querer tomar, mas a que se tem recorrido constantemente nos últimos tempos dada a falta de circunstâncias naturais para a necessidade de se encontrarmos, sem nunca no entanto se passar nada senão conversa mole alimentada a ganza, que parece cada vez mais ganhar contornos de ritual masoquista (dada a crescente e cada vez mais desesperada necessidade que sinto de beija-la loucamente ). Uma vez cada um. Estabeleceu ela na despedida com a célebre frase "para a próxima é a tua vez de dizer qualquer coisa". E não é que já é a minha vez novamente? Fodasse, que merda. E agora depois das férias como vai ser? Vou desistir deste pântano platónico que me continua a assassinar neurónios para voltar a pensar nalguma outra prima que me consiga manter sóbrio, e a levar uma vida "normal"? Será que conseguiria sentir o mesmo fascínio por Cátia sem droga? Será que se estiver com ela sem dopping, todos estes pensamentos desaparecem e ela passa a representar apenas uma gaja normal? Será que o meu desejo por Magda era apenas e só um vontade subconsciente de assentar e acalmar, ou será que sinto mesmo algo forte por ela? Ou será que surgirá outra? Ou alguma antiga, mas mal resolvida? Ou será que vou tentar esquecer tudo isto novamente, e voltar a viver o presente, aceitando uma cama quente, segura mas com coleira?

Seja como for, quando estou com cada uma delas parece que tudo o resto desaparece. Cada momento, é um reencontro só, apenas. Cada uma é completamente diferente de mim, e de todas as outras. De resto, os nossos encontros e desencontros não têm nada de comum. Cada uma tem os seu beleza própria, e de todas anseio o prazer do charme, sedução e convívio. Perco-me e deixo-me levitar em cada momento, como se fosse o último, e não houvesse amanhã. Não posso estar de consciência pesada, nem ter qualquer tipo de remorsos ou preocupações. Limito-me a tentar não pensar. No entanto há uma que não me deixa. A Cátia Snob tem um poder especial sobre mim. É o único elemento sempre presente, conscientemente ou não, em todas as histórias. Pela simples razão de que foi aquele que durou mais tempo. Será? E porque foi com todo o mérito aquela que me consegui deixar mais confuso até hoje. Também, nunca estava"normal". Confesso que tenho medo que isto me rebente nas mãos. Se ela sonhasse sequer com estes últimos acontecimentos... Também se esperasse por ela, não teria nada para contar aqui. Como não há forma nem vontade de evitá-lo, escolhi não me preocupar muito com isso. Também não será por ficar parado que resolverei as coisas com ela... Deveria? Não sei. Talvez. Provavelmente. Mas parado ou não isto não dará em nada. E se não der, não será apenas essa a razão decerto. Mas mexe sempre... De outro modo por esta hora, não estaria a escrever isto. As insónias estão de volta. Que grande confusão. Se tivesse de escolher alguma, nem perderia um segundo para pensar. Ficaria sozinho, novamente.

Reencontros, sexo, reflexões, droga, insónias.
Fodasse, isto é que são férias?

The Return Of The Fucking Indecision

Voltei ao nostalgicamente negro pântano depressivo, que descreveria muito superficialmente como a velha angústia corrosiva da solidão, curiosamente numa semana que até foi paradoxalmente mais agitada do que o normal. Inexplicavelmente, este sentimento de letargia surge num período marcado até por relativa socialização, e com alguma intimidade até à mistura.

Lembro-me que até há bem pouco tempo, andava satisfeito por ter voltado a sentir aquela energia dos meus tempos de adolescente (16, 17 anos), em que nada parecia impossível e a sede de viver me fazia correr atrás de tudo, a alta velocidade, numa permanente e insaciável sede de abarcar o máximo possível da vida, no mais curto espaço de tempo. Lembro-me que corria como um desvairado em direcção ao próximo encontro, à próxima paixão, numa desenfreada e inconsciente missão que prosseguia religiosamente como se tivesse acabado de descobrir o mais precioso segredo do mundo. E tinha de facto a convicção de que tinha descoberto algo muito poderoso. Não, não era o amor. Esse veio depois e deu cabo de tudo. Era a paixão. Não a paixão platónica, pois essa já a conhecia perfeitamente, e ainda hoje tenho dificuldade em saber como reagir a elas. Era a outra paixão. A paixão do prazer. A paixão do momento. A paixão da intimidade. A paixão de compartilhar o meu segredo com o maior número de almas curiosas, que como eu, estivessem na predisposição de embarcar na intima cumplicidade, no calor de uma aventura fugaz e extemporânea. Não havia receios, nem grandes questões acerca do futuro. Não havia medo de sentimentos, nem de problemas. Apenas uma tremenda vontade de experienciar, de viver. Não haviam grandes questões nem compromissos. Os relacionamentos começavam naturalmente como uma pequena brincadeira de flirts mais ou menos explícitos. A abordagem era feita de forma leve e sem grandes sobressaltos ou inibições de parte a parte. Não havia grandes complexos ou preconceitos. Algumas novas e velhas amizades passavam a merecer uma atenção central, a partir do momento em que a filosofia partia de uma análise centrada numa perspectiva de partilha e não da perspectiva de apropriamento ou aproveitamento da outra parte. A ideia era sim, proporcionar prazer à outra metade quando ela nos agradava e nos retribuía prazer, em igual proporção. Era como uma risco assumido, uma aventura que ambos aceitávamos tacitamente percorrer.

Recordo com nostalgia a sensação do calor daqueles beijos repetidos vezes sem conta, em corredores obscuros e escondidos do liceu. Lembro-me do seu sorriso maroto, dos seus olhos escuros e rasgados, do seu caminhar apressado mas seguro, do seu olhar tímido e inocente. Das suas felizes gargalhadas, dos seus abraços apertados. Da primeira vez que nos beijámos. Daquela noite quente nas areias da praia alentejana. Do seu corpo perfeito, da sua cintura delgada. Pegava-lhe delicadamente e ia subindo até acariciar os seios firmes e maduros, à medida que se ia contorcendo de prazer. Recordo-me da Caty.

Recordo aquelas tardes passadas no jardim, em que se rebolávamos na relva como loucos. Recordo-me de viagens (sem carta) que fazia de mota diariamente para vê-la. Lembro-me dos seus belos e delicados cabelos dourados. Da sua pele branca. Da forma harmoniosa e sublime do seu corpo. Dos seus olhos claros. Do cantinho no jardim, do nosso banco no parque. Deitados, deixávamo-nos embalar nos braços um do outro, enquanto contemplávamos o azul do céu e as nuvens que iam passando vagarosamente... As despedidas intermináveis. Aquela tarde de verão nas dunas. Nada mais parecia importar. Da nossa primeira vez. Despíamos os preconceitos e perdíamo-nos em carícias, ao mesmo tempo que tremíamos como varas verdes. Do nosso abraço. Da nossa última e dolorosa despedida. Das nossa ridículas cartas de amor. De vê-la chorar naquele dia. Recordo-me da Filipa.

Recordo-me daquele canto atrás da escola, pelo anoitecer, onde nos abraçávamos sofregamente todos os dias à mesma hora, antes da partida para o autocarro. Lembro-me perfeita do sabor agridoce da mistura de sentimentos. Dos olhares cúmplices nos intervalos. Das brigas constantes. Do seu cabelo ondulado, naquela altura ainda longo e natural. Do seu sorriso. Do seu perfume. Dos problemas mal resolvidos. Da intensidade aqueles beijos que pareciam sempre que iam ser os últimos. Das noites no banco de trás do carro. Daquela em que chegámos às seis da madrugada e estavam os seus pais na rua à espera. Da sua primeira vez. Das minhas cicatrizes. Do que se seguiu. Daquelas noites. Recordo-me da Vânia.

Recordo-me também das tardes passadas na varanda mais alta daquele prédio de 7 andares abandonado, que nunca se chegou a terminar apesar de terminado, e que não tínhamos qualquer pudor em partilhar com os agarrados que pernoitavam de noite nos andares de baixo. Dos seus longos e lisos cabelos pretos que desciam até aquele rabo perfeito. Das curvas do seu delgado corpo. Das suas longas pernas de modelo (que chegou a ser). Dos seus seios, redondos e empinados. Do seu estilo misterioso e rebelde. Cheios. Dos seus olhos verdes. Da sua pele morena e exótica. Dos seus lábios delicados mas carnudos, bem definidos. Lembro-me bem daquele nosso quarto improvisado. Das nossas longas horas de conversa. Da forma como me acariciava o cabelo. Chamava-me Índio. Ela sim, parecia uma deusa de uma tribo. Daquela porta de madeira que parecia o colchão mais confortável do mundo. Daquelas garrafas de vinho verde frescas que bebíamos como champanhe. Das nossas eternas bebedeiras. Das tardes que passávamos naquele bar. Dos nossos cigarros. Das nossas primeiras ganzas. Lembro-me do dia em que vomitou. Das brigas silenciosas, por causa de Vânia. Daquela tarde que passámos no carro, quando a fui levar a casa de carro, sem carta, sem autorização, perdidos de bêbados. Recordo-me daquele seu ultimatum por alturas do Carnaval. Recordo-me a ter perdido por causa de outra que não lhe chegava sequer aos calcanhares. Do seu sentido apurado, do seu humor sarcástico, da sua rebeldia, da sua inteligência. Vestia sempre de preto. Recordo-me da Rita.

Recordo-me ainda de outras ainda desse período, mais efémeras, fugazes, menos marcantes, menos felizes. Recordo-me da maioria delas. Mas não me recordo de mim. Não me recordo daquele eu de 16, 17 anos, capaz de correr cada vez mais depressa, cada vez mais optimista, cada vez mais alegre, cada vez mais deslumbrado. Daquele eu apaixonado, destemido, confiante, que encarava o futuro com um piscar de olhos, com um permanente sorriso por dentro. Daquele eu, capaz das mais ousadas loucuras, sem pensar parar, desistir, ou sequer olhar para trás. Daquele eu que toureava o azar com um pano vermelho. Que alcançava a felicidade inconscientemente, e nela permanecia e repousava sem sequer disso me aperceber. Era feliz nessa altura, mas só o vim a saber verdadeiramente hoje.

Partindo do princípio que me encontrava estabilizado, seguro, fui à procura desse eu, perdido no passado. Queria recuperá-lo, ressuscitá-lo para me sentir bem, feliz, vivo novamente. Fui em busca dele nestas férias, e tentei adaptá-lo à minha situação presente. Não só não consegui, como a corda estendeu demasiado e partiu. O meu eu normal e relativamente estabilizado, sem altos nem baixos, no qual tenho permanecido nos últimos tempos, não aguentou as últimas emoções e abandonou-me pela primeira vez nos últimos dois meses. O meu eu crítico, racional, melancólico voltou e tomou conta de mim. Veio-me pedir justificações, fazer perguntas e ilustrar com imagens. Deixou-me a repensar de novo toda a situação. Levou-me a estas recordações do passado, confrontou-me com as situações do presente e a fazer contas para o futuro. Fez-me ver os erros, as inúmeras oportunidades perdidas, e os processos pendentes. Deixou-me profundamente infeliz e a chorar interiormente. Disse-me que só tenho feito merda. Que me estou a meter por um caminho que já não faz sentido. Que é um ciclo vicioso. Que depois poderá ser demasiado tarde. Que desta forma acabarei inevitavelmente sozinho. Mostrou-me que ando a sacrificar os outros e a mutilar-me a mim próprio. Que estou mais solitário do que nunca. Mostrou-me que necessito de algo mais do que isto. E que não será comportável com nenhuma das opções presentes. Encontro-me neste constante isolamento. O que realmente me faria faz neste momento não é paixão. Seria sentir. Seria ser sentido. Seria ...

Conclusões? Tomar xanax diariamente ou meter um tiro na cabeça. Enquanto não decido, voltei à droga. Há que desanuviar, pois a dor é forte e corrosiva. O restante permanecerá na eterna indefinição e expectativa.

Fotos: MONOART

Revi a Malvada Prima


Esta quinta revi uma das primas malvadas...
Aliás, revi duas...
São mais do que duas aliás, mas as outras ficarão para uma próxima vez...
Todas têm o seu encanto , todas me provocam desejo...
Gostava de as ter todas, possuindo cada uma todas as noites...
No entanto, não sou nenhum sultão, para desespero dos meus desmesurados impulsos mais selvagens...
Se me perguntassem qual desejo mais, responderia qualquer uma. Não, todas e nenhuma...
Apenas uma há, que teima em deixar a minha cabeça...
Já lhe dei ordem de expulsão há dois meses, mas não há meio de desaparecer...
Mas essa história, fica para uma próxima oportunidade...
Revi-as e desrevi-as. Au revoir, ou até breve, não se sabe...
Neste jogo não há certezas...

A primeira prima malvada, Magda, revi-a na escola...

Depois destas férias nojentas, em que me limitei a vegetar, sem se ter passado nada digno de registo, foi com um enorme prazer que recomecei as aulas. Apesar de só ter dormido três horitas, lá me levantei. Depressa me arrependi também. O meu entusiasmo bateu logo de frente com um velho estúpido, snob e ignorante (ainda por cima mal-educado como tudo), que me calhou neste segundo semestre. Proclama-se o decanto (a ratazana mais retrógada e ultrapassada) da faculdade, e diz que ao contrário de nós, jovens ignorantes, ele sim tem cultura geral, porque sabe responder às perguntas do quem quer ser milionário, e já visitou o Egipto. Ao contrário de nós, que diz termos vindo todos de um meio pequeno para uma cidade, ela veio do Porto. Que bom para ele! Porque será que não volta? É um forreta a dar notas e não tem problemas em chumbar alunos. No tempo dele não era assim, e diz que se matava a estudar. Pena que isso não o tenha matado mesmo...
Falou novamente do quem quer ser milionário. Uma qualquer espectadora não soube responder a uma pergunta tão fácil, que ela sabia tão bem, disse. As pessoas são tão ignorantes. Perguntou novamente se alguém já tinha visitado uma qualquer capela numa perdida aldeia francesa, e ficou chocado ao saber que não.. Repetiu novamente as histórias vezes sem conta, e parecia não conseguir acreditar que ninguém nunca tinha visitado uma merda duma capela com umas colunas ninguém sabe como, que ele tão bem guarda na memória até hoje. Não quero imaginar o que de mais interessante teria para contar...
Estava incrédulo. Referia que esta juventude não conhece nada, e recomendou que devíamos visitar aquilo o mais depressa possível. Queixou-se novamente da falta da nossa cultura geral, e perguntou se alguém tinha visto o "Quem quer ser milionário", que agora já não se chamava assim. Que injustiça, mudaram o nome e o programa! "E ninguém viu ontem? Não viram aquele senhor que não sabia o que era não sei o quê? Que escândalo! Ninguém viu mesmo? Ninguém tem cultura geral hoje em dia..." Depois descreveu novamente em pormenor o caso do senhor ignorante e depois disse que devíamos fazer todos um doutoramento, porque era a coisa mais linda do mundo... Despejou a matéria de forma mecanizada, pôs toda a gente a dormir, e acabou a aula, lamentando a nossa falta de cultura geral...

A pequena sala de aulas é formada por sete filas de carteiras. Costumo ficar sempre nas últimas . Uma das primas malvadas costuma ficar sempre á minha frente. Reparei que ultimamente, se tinha passado para as filas da frente. Agora parece que regressou...

Costumo trocar olhares com outras primas mais afastadas, mas esta é especial...
Tenho andado a evitá-la, e neste ano não lhe dirigi uma única palavra ou sequer olhar...
Foi das poucas pessoas com quem ganhei confiança, no meio daquela normalidade toda, porque me pareceu diferente... Estava muitas vezes sozinha, e parecia distante. Chegámos a falar muitas vezes e reparei que simpatizou comigo... É a mais bela daquele sítio e arredores na minha opinião, e é sem dúvida a única que me despertou os meus qualquer coisa nos meus instintos mais primitivos, mas não só... Estranhamente, não só...
No entanto, não dá muito nas vistas, para os mais distraídos. Veste-discretamente e não se pinta. Apesar disso, tem um aspecto angélico, puro, virginal, que me apetece descobrir. É depressiva, sem dúvida...

A Magda tem um corpo perfeito, de modelo, e umas pernas, ancas e seios divinais. Uma única vez levou um ligeiro decote, e apanhou-me a espreitar para dentro enquanto falava com ela. Reparou e sorriu subtilmente. Tem os cabelos longos e -----, muito lisos e macios. Dá vontade de toca-los e brincar com eles. Foi a última vez que o usou, e foi também essa a última vez que falei com ela...
É alta. Não é mais que eu, porque uma vez levei sapatilhas para fazer a experiência. Não foi a primeira vez que fiz experiências rídiculas como esta. A pele é muito branca, e tem um olhar especial e misterioso que atrai o meu como um íman. Dizem que o mito da gaja ideal não existe, e que não passa de uma ideia abstracta e subjectiva. Mas foi o que senti quando a vi pela primeira vez. Algo em mim reagiu muito intensamente. Subiu-me um arrepio pela espinha, e pensei é aquela. Seria a mulher ideal para mim... Mas... Uma vez pedi-lhe ajuda para um trabalho, e começou a pôr mil problemas. É óbvio que eu ia fazer plágio. É óbvio que não pensei que ela fosse reagir daquela forma, pois imaginava-la completamente diferente. Respondi-lhe que não voltava a incomodar e cumpri. Não lhe devolvi a disquete. Pensei usa-la como desculpa para abordá-la. Acabou no lixo, e enterrei completamente no assunto... Beleza exterior?
Antes disso costumava cumprimentá-la sempre que passava por ela. Cheguei até a armar-me em bom samaritano e uma vez acompanhei-a a casa... Pelo caminho disse que tinha tido uns problemas quaisqueres na adolescência dela, mas não se alongou muito mais na conversa. Não me convidou a entrar. Também não pedi para descrevê-los...
Foi o período que estive mais perto de descobrir qualquer coisa.. Depois, falei com ela para arranjar cópias de apontamentos, mas recusou, justificando que já as tinha emprestado a alguém, e que já não dava tempo porque faltavam dois dias para acabar as aulas. Assim fiz. Percebi a deixa e segui o conselho. Não arranjei as aulas, mas fui tentar noutro lado. Acabei por ter sorte, literalmente, sem estar à espera...
Sem perceer muito bem como, estava na cama com uma pseudo-gótica. Chamava-se Sónia. Pinámos na mesma noite em que nos conhecemos. Estávamos com um grupo de amigos comuns. Andava desesperado e ela também. Já nos tínhamos visto, mas nunca tínhamos falado. Nessa altura, até a achava atraente e rebelde. Nua por fora e por dentro, especialmente por dentro, perdeu todo o encanto... Falámos, bebemos e fumámos droga toda a noite, num bar. Depois fui levá-la a casa, na despedida beijou-me e depois fomos para minha casa entregarmo-nos ao desejo. Ela não fumava nem bebia, por uns argumentos quaisqueres, e também não era grande conversadora. Só tinha 20 anos. Seguia aquilo do gótico mesmo à letra. Perguntei-lhe porquê e não me soube responder. Perguntei-lhe o que era e também não soube. Limpou a meu pedido a pintura e ficou muito mais gira, muito menos artificial. Mas nem assim tinha aquele brilho... Era bonita, mas não me atraía. Não foi grande foda. Sempre tinha tido a tara de ir com uma gótica daquelas mesmo fanáticas... A primeira foi mesmo má. Tinha prometido a mim mesmo não voltar a repetir, mas uma semana foi outra para redimir a primeira. Foi melhor, mas ainda assim não foi grande coisa. Da primeira vez estava tão bêbado, que depois caí para o lado, sem repetição... Foi a primeira vez que me aconteceu e fiquei admirado. Não era do álcool. Na segunda vez fiquei com a certeza. Ainda assim fiz as pazes comigo próprio, tentando compreender tudo aquilo, assim tão a frio... Depois fiz um charro, e senti-me bem. Fumei-o e pensei que se ela fumasse também se sentiria. Mas ela não fumava. Era fria, fechada e não muito descontraída. Também não era o meu género. Fiz tudo para pô-la bem disposta, mas há pessoas que simplesmente não conseguem querer desfrutar das ironias da vida... Consegui mesmo assim fazê-la rir e mostrar-se um pouco. Lá me contou umas coisas. Nada de muito interessante. Prometi a mim mesmo não repetir. Ela simplesmente não me atraía.

Com esta minha prima malvada, a situação é completamente diferente. Seduz-me e de que maneira...
Mesmo num plano apenas físico. Já a despi na minha cabeça várias vezes e já imaginei como seria ela... Já fiz vários filmes com ela, e ainda não perdi (na altura que tinha escrito isto, talvez não. Agora está fora de questão) de todo a ideia de um dia... No entanto houve algo que me fez pensar, e ganhar certas dúvidas, quando lhe pedi os trabalhos. Colocou logo problemas, e começa-me a parecer muito picuinhas, ou melhor, egoísta... (mais tarde consegui chegar à brilhante conclusão que devia estar louco...).
Ainda assim, um dia destes, tenho de lhe devolver a disquete. Mas ainda é cedo...
(Isto na altura. A disquete já está no lixo).

A segunda malvada prima, a Denise revi-a na secção...

Como aluno aplicado que agora sou, à tarde também fui às aulas. E sou tão aplicado que nem sabia que as aulas dessa tarde não se iam realizar, como havia sido anunciado. Quem mo disse foi a professora dessa cadeira, que por sinal também é na minha opinião, de longe a mais simpática. Respondeu-me com um sorridente olá, e troquei mais algumas palavras com ela. Não falei mais, porque estava a interromper uma conversa que ela estava a ter com uma distraída como eu. Acho que essa professora é a única que me decifrou à distância. Não foi por acaso, porque notei que também era algo inconvencional. Não costumo falar nas aulas. Recordo-me que na primeira, ela estava a pedir a todos para definirem numa palavra um dado conceito em relação aquela profissão. Todos, estranhamente sem nenhuma excepção, enumeraram adjectivos banais e estéreotipados. Todos se repetiram, e copiaram. Todos se esgotaram em menos de dois minutos. Chegou a minha vez. Inverti a pergunta. Lembro-me que falei bastante enquanto ela ia ouvindo muito atenta, ao mesmo tempo que ía acenando que sim com a cabeça. Só depois disso respondi à pergunta dela. Falei durante cerca de meia hora ou mais. Depois despachou os outros dois que faltavam, e foi a vez dela. Mencionou que eu já tinha dito praticamente tudo, e pouco acrescentou. Deu alguns conselhos, para o futuro, e criticou implicitamente algumas daquelas respostas estereotipadas. No final da aula, deu-me os parabéns e perguntou-me a idade. Subiu-me o desgastado ego (desculpem esta masturbaçãozinha rápida), e eu agradeci hipocritamente, pois apesar de tudo gosto de me manter discreto e detesto falar nas aulas. Mas sou tão bom aluno que não entrei num trabalho de grupo que contava para nota, não fui ás restantes aulas por isso, e nem sequer cheguei a ir ao exame dessa cadeira...

Bem, não interessa. Resolvi não ir para casa. Tinham-me ligado e fui ver o que se passava. Fui admitido para tirar um curso nas artes. Calha em muito má altura, e vai-me servir de desculpa para não fazer mais nada. Seja como for, vou realizar um sonho antigo. Uma das razões pela qual não vou lá há meses, estava lá. Aliás, como sempre. A maior parte deles, não faz mais nada na vida... Não sei como é a vida sentimental daquela gente, mas a muitos deles acho que não sobra tempo para mais nada (o resto do texto foi censurado, uma vez que o blog está a perder o estatuto de anónimo aos poucos). Já estive quase um ano sem sexo, e dei mesmo em maluco... Nunca tive mais do que isso, porque em último caso recorria ao "ex lovers sex"... Era bom sexo, mas não há mais a dizer...

Penso que é o caso desta minha prima malvada. Encontram naquela organização uma certa forma de projecção pessoal, e vão continuando, para poderem ir vendo todos os dias aquelas pessoas com quem desejaria provar mais do que tudo. Sei disto porque andei lá durante bastante tempo. Mas eu, ao contrário delas não conseguia aguentar esse mero desejo por muito tempo, e volta e meia, por mais que uma vez fazia umas férias, para resolver o que não podia esperar mais. Mesmo quando acabava por não resolver nada. Não aguentava era vê-las tantas vezes, paixões platónicas auto-destrutivas... No entanto sei que perco algo, por outro lado. É numa paixão platónica que tudo sabe melhor, e é mais intenso... O pior é que nunca se chega a vias de facto. Por isso mesmo se chama platónica. Utópica também não seria má descrição...
Desde que deixei a droga ando bem pior. è uma seca, e o desejo sexual aumenta em flecha. Desta vez, as férias já duram desde Novembro, altura em que deixei aquela merda. Em parte por causa de duas gajas lá... Platonices sim, foi por isso que fugi...

Tive lá duas grandes paixões. Esta Denise, foi a minha primeira, numa dessas alturas em que já estava há demasiado tempo sem falar com uma rapariga. Sofria já de uma depressão crónica e prolongada, alimentada a charros tomados diáriamente, em doses sucessivas, até ao ponto de ficar sem saber quem era, e o que fazia ali. Vivia como um vegetal, e não pensava. O objectivo, aliás, era esse... Durante um ano ou mais, depois do último pesadelo com a minha ex tinha medo de olhar para uma mulher nos olhos, e a Denise foi a primeira a acordar-me. Desde o meu primeiro ano aqui tinha sido uma sucessão de tragédias, e um isolamento cada vez maior, de mim e do mundo...

Tentava recuperar a minha vida agora um ano depois. E uma nova mulher, porque não? Mas os meus complexos eram agora ainda maiores que por altura dos meus 14. A Denise foi a primeira mulher por quem senti alguma coisa, no espaço de anos. Tinha ficado num estado deplorável... Foram precisos dois anos para me permitir aos poucos muito timidamente, sentir fosse o que fosse. Mas durou apenas um ano. E a minha falta de segurança, traumas antigos e muita droga levaram a que fosse desaprendendo tudo a pouco e pouco... Também meteu outra paixão, lá pelo meio, no mesmo sítio. Mais intenso. Mas se bem que sentia que podia amar a Denise, a Sandra era uma atracção arrebatadora e repentina muito intensa que não fazia a menor ideia de como iria terminar. Mas cheirava-me a tragédia. Era doida como eu... Mas sentia ciúmes. Ela gostava de um tipo qualquer lá do sítio e fazia tudo por ele. Eu estava doido por ela e a solução foi sair de lá. Aguentei esta paixão dois anos. E estava dividido, amava Denise mas estava apaixonado por Sandra. Confuso, não? Inventei uma birrinha esfarrapada qualquer, daquelas que nem faz bem o meu estilo, e até hoje... Já tinha partilhado segredos escondidos com ambas..., e até em simultâneo. É aliás a coisa que me dá um enorme gozo. Cria-se logo um sentimento de empatia e de intimidade. Cria-se também aquele sentimentalismo que não existe no nosso estado normal. As drogas libertam o amor. Está até provado que a cocaína liberta as mesmas substâncias químicas no cérebro do que a paixão. Imaginado, seria perfeito....

Mesmo passados mais de dois anos, desde que vi a Denise pela primeira vez, bastou-me vê-la para ficar com todos os meus sentidos em alerta. É muito simpática e delicada. Parece extremamente sensível e inteligente. Gosto particularmente dos seus cabelos côr de avelã. Deveriam saber a caramelo... O seu olhar e a sua voz deixam-me a derreter... Os seus olhos são ternos e parecem pôr o meu cérebro dormente... A sua voz meiga, suave, de menina, enfeitiça-me e deixa-me estático. Parece que fico pedrado quando a ouço, e sinto-me a flutuar... Recebia-me sempre de braços abertos e com um sorriso de orelha a orelha. Não sei se chegou a sentir alguma coisa por mim. Já pensei que sim, já pensei que não.Se sentiu não foi nunca algo muito forte. E candidatos não devem faltar. E todos eles, bem mais assíduos e bem comportados do que eu. Que sejam felizes. Já ficou tudo lá atrás... Seja como for, este longo devaneio serviu para qualquer coisa. Para me lembrar que estas férias delas já vão demasiado longas...
Vou voltar! (Acabei por não regressar.)