Friday, December 09, 2005

O amor não surge por magia, mas sim por tentativas...

Devido, a algumas reacções feministas, de resto com alguma razão de ser, urge esclarecer alguns pontos acerca das minhas convicções e filosofias de vida. Ao contrário do que se possa pensar, não tenho uma visão machista do mundo, e muito menos materialista das mulheres. Todas têm os seus encantos e qualidades (também defeitos), todas têm o seu charme, a sua chama, todas têm o seu encanto e mistério. Todas são uma caixinha de surpresas, um tesouro imenso a descobrir. Acontece que muitas delas me despertam curiosidade, interesse, desejo, interesse de descoberta. Vontade de desvendar aquela fachada exterior, que nos vai dando imagens, pistas sucessivas obre o que verdadeiramente compõe o interior daquela imagem, à medida que nos vamos cruzando e desfilando neste imenso e grandioso palco que é a vida.

Numa análise mais vasta, não são só as mulheres que nos despertam esta curiosidade, este interesse de saber o que vai no mais íntimo da pessoa, no interior de certa alma. Esse fascínio é normal em todos nós, e é de facto saudável. Com todos se aprende um pouco mais, não só acerca desses espíritos mas simultaneamente do ser humano em geral, de nos próprios em particular. A mim fascina-me profundamente, e grande parte do que sou hoje em dia, foi retirado e construído da mediação entre a interacção permanente com os outros, e comigo próprio. Toda a minha vida, especialmente desde ganhei essa liberdade e adquiri a possibilidade de o fazer, que tive o cuidado de escolher escrupulosamente os indivíduos que mais admirava, e com os quais sentia que tinha mais a aprender. Ora isto tanto vale para homens como para mulheres. Para jovens da nossa idade ou para exemplos um pouco mais velhos. Mesmo dos familiares, conscientemente ou não, retirámos a experiência e em geral, e os aspectos que mais gostamos em cada um deles.


Ora isto é tanto ou mais verdade com as mulheres. Contudo, neste campo as coisas adquirem um especial sentimento, um especial magnetismo que nos faz pôr a razão pura de lado, e nos obriga a verificar que há algo de mais poderoso do que o simples raciocínio nestas escolhas. Mas apesar disso, há sempre um fundamento racional, nesse sentimento irracional, que o nosso subconsciente lá despertou e transformou em atracção. Provavelmente dai vira, numa analise feita de modo superficial e ligeiro, o encanto e o interesse do poderoso jogo da atracção. Pelo menos eu funciono assim. Quase todos os dias sinto essa reacção dentro de mim. Todos os dias me sinto tentado a olhar para belas e interessantes mulheres. Todos dias me sinto atraído por elas enquanto me cruzo, enquanto as olho, enquanto ouço, enquanto falo, enquanto interajo com elas ou mesmo quando me limito a observar de forma passiva. Todos os dias me apaixono. Embora haja claro, algumas que me despertam um sentimento mais poderoso e mais forte, que me faz deseja-las permanentemente, mesmo quando não as vejo ou estou com elas. Pelo menos comigo sempre foi assim, e penso que sempre será, ate ao dia em que, de naturalmente, e volto a frisar, de forma natural, espontânea e progressiva deixe de o ser.

Ora será isso impeditivo de um dia vir a amar alguém, ser fiel, e ter uma relação estável? Na minha opinião são duas coisas humanas e perfeitamente compatíveis. Não esta nos meus ideais trair alguém quando me comprometo a não fazê-lo. No sentimento verdadeiro não é isto uma promessa ou uma obrigação, mas antes uma convicção, plenamente assumida, como alias já tive a oportunidade, embora ligeira e temporária, de sentir. E se digo temporária aqui, e por sinceridade e não por hipocrisia. E evidente que a vida é um contínuo rodar de película, e nunca se sabe o que a próxima cena do guião nos ira reservar. Como tal não acredito em promessas eternas, embora não admita que elas não possam acontecer. Acontecem de facto, e e bom acontecerem. Mas não acontecem por acaso nem por milagre. Não acontecem nestes moldes de promessa eterna com uma venda nos olhos, sem qualquer background prévio, e como tal sem saber o que nos reserva o amanhã. É preciso querermos e desejarmos com muita intensidade estar com essa outra metade diariamente, e fazê-lo de forma natural e saudável. E se isso não acontece nas primeiras tentativas, nos primeiros tempos, ou nos primeiros personagens não é defeito de ninguém senão dos nossos complexos e dogmas sócias. Deve ser um processo contínuo, livre, despreocupado, aberto, flexível e aceite de forma natural, espontânea, voluntária e progressiva. Nunca uma tentativa de querer que as coisas aconteçam por magia, num curto espaço de tempo, e ás primeiras tentativas, nas primeiras relações. Deverá antes ser antes atingido por tentativa e erro. Tentativas concretas e consumadas, e não ficções imaginárias, hipotéticas, platónicas. Não deve haver medo de arriscar, de experimentar, de vivenciar, nem depois deverá haver um complexo de dever, de subserviência, de aceitação de resignação. É preciso testarmo-nos a nós próprios e aos nossos limites, bem como aos outros, nas mais diversas situações. E se não nos completar, se não nos satisfizer, se não nos realizar, não há que ter qualquer problema de consciência para connosco ou para o nosso parceiro/a, pois o balanço a retirar no final será sempre de satisfação de alegria, por mais experiências de vida registadas (na primeira pessoa), por mais recordações positivas, por mais bons momentos passados, que nos realizam e enriquecem sempre. Crescemos e aprendemos não na teoria, não no plano imaginário, hipotético, não isolados dos outros, do mundo e de nós próprios, mas sim pela mediação do eu com o outro, com a situação concreta, com o cenário real, que não há que temer mas sim que desejar e levar a cabo.

Como poderemos então nós adivinhar quando chegará esse momento, esse alguém especial, em que vamos deixar de desejar viver essas situações diferentes e diversificadas, e sentir a necessidade de abdicar de todas elas até sentir a necessidade de perpetuar uma em concreto? Qual será então esse momento em que nos vamos sentir assim de forma espontânea, e ter a certeza que a nossa busca estará terminada, pelo menos até certo ponto? Esse sentimento a que chamam amor? Quanto tempo demorará esse processo, esse ciclo de conhecimento e de aperfeiçoamento de nos próprios e dos outros? Quando saberei eu que estou perante a pessoa certa? Quantas relações serão necessárias até saber que cheguei esse nível? Quanto tempo terá que durar cada relação até chegar ai? Durará seis dias, seis semanas, seis meses, seis anos, seis décadas? É uma incógnita, e nunca se poderá adivinhar o futuro. Ignorante e inconsciente será aquele que diga o contrario, por muita que seja a sua vontade de que isso de facto se realize. Por isso a solução simples será sempre a de não ficar parado e não ter medo de arriscar. É a pratica que conduz á perfeição, é pelas tentativas praticas que se chegara ao amor perfeito e não o contrario, pois só aí as partes terão bagagem suficiente para saber como agir nas mais diversas e complicadas soluções. Para alem do mais já se conhecem as dificuldades.

E qual será a melhor forma, agora falando em concreto, para atingir esse estado pleno? É errado conhecer pessoas, interessarmo-nos por outras seres como nós, apaixonarmo-nos por elas, ter casos românticos ou não por quem sentimos especial interesse? Por quem nos atrai? Por quem nos sentimos identificados? Por quem nos fascina? Por quem nos seduz? Por quem nos faz despertar em nós os nossos mais profundos impulsos e sentimentos? Por quem queremos descobrir como a um tesouro, desvendar como um segredo? A quem queremos tirar a máscara social para conhecermos verdadeiramente, a ela e a nós próprios? Com quem queremos partilhar a nossa vida, o nosso íntimo, o nosso ser, a nossa cama? É errado fazê-lo? Porquê? Por um receio ridículo? Por um complexo social? Por um trauma qualquer do passado? Por um medo cobarde dos outros, e de nos conhecermos encontrarmos a nos próprios?

De facto, todos estes factores têm nessa escolha um relativo factor, mas o principal problema aqui e apenas e só o medo de assumir um compromisso. É que na nossa cultura ocidental, envolver-nos directa e intimamente com outra pessoas significa (embora não se assuma logo à partida, mas esta implícito) assinar (embora de forma não objectiva) um contrato prévio que nos obrigue a prometer compromisso amor eterno, bem como de fidelidade (aqui tomada no seu sentido mais radical). Ao invés, isto deveria ser sim um compromisso apenas de descoberta de prazer mútuo, apenas no momento presente, retirando daí o máximo de prazer e deixar o tempo ditar o futuro, os sentimentos, e ate o tipo de relação sem definir nada previamente. Ambos poderiam conhecer o outro, viver momentos memoráveis, e deixar tudo o resto indefinidamente para trás das costas, ate que o tempo de forma natural ditasse o desfecho da situação. Ao invés as pessoas preferem ficar sozinhas, frustradas, abandonadas e infelizes sem nunca sequer chegarem a saber, como seria realmente beijar aquela pessoa, passar uma quantidade apreciável de tempo com aquela pessoa, sentir aquela pessoa, dormir com aquela pessoa, e conhecer os seus segredos. Só assim se conhece verdadeiramente. E se não resultasse partiria para outra, com mais conhecimento que lhe iria ser útil. Levariam sempre pelo menos uma boa dose de recordações e sentir-se-iam vivas e plenas. Mesmo que essa busca decorresse durante, se tal fosse esse o entendimento entre os dois, porque não? Num plano de poligamia até, num caso extremo, seria perfeitamente aceitável. Desde que claro com o perfeito conhecimento da situação e dos termos entre as partes e sem quaisquer segredos. Não só seria possível, como saudável, e daria a cada um de nos, a possibilidade de ganhar alguém, não pelo compromisso forçado, mas através da plena, sã e testada vontade de escolher até, depois uma delas, se fosse caso disso. Com igual procedimento entre os dois parceiros, ou não, se tal fosse a sua situação com consequente aceitação.

Se queremos descobri-las, desvendá-las, passarmos momentos de felicidade com elas, ao mesmo tempo que vamos as vamos enriquecendo e a nós próprios? É mau passarmos por experiências juntos com pessoas, ter acesso a um pouco do seu universo interior, abrir a caixinha de surpresas que tanto nos fascina e tanto nos impele a descobrir? É mau partilhar experiências com alguém que nos fascina e atrai profundamente? É mau se nos sentimos tentados a beijá-las, a amá-las, a ouvir os seus mais secretos pensamentos, as suas ideias e convicções, os seus traumas de infância, os seus complexos de adolescência, os seus momentos de alegrias e de felicidade, as suas narrativas hilariantes, os seus medos e receios, os seus problemas e dificuldades, os seus sonhos e planos? É errado isso? Então porque não? Então porque somos nos cobardes e hipócritas ao ponto de nos privarmos de tudo isso, para permanecermos fechados no nosso próprio mundo, com barreiras fechadas a volta de cada um, porque vivemos numa sociedade constrangedora, que nos transforma a nós seres humanos, com essas necessidade natural de estarmos em permanente contacto com os nossos semelhantes, especialmente com aqueles pelos quais mais nos interessamos, mais nos fascinam, ou mais desejo de descoberta nos provocam? Que merda de sociedade hipócrita é esta? Que merda de pessoas acreditam e sustentam este sistema artificial, cruel, castrador e inumano? E que merda de protocolos e de regras sociais é que temos? Que merda de educação recebemos nós? Que merda de influência é exercida sobre isto, quais os seus meios e repercursões? Não será de ignorar decerto a inluência rígida e conservadora da religião feita de modo directo ou indirecto, que interfere claramente na educação dos jovens e que é depois alimentada por leis e organizações sistemáticas, promovidas e sustentadas por um pequeno grupo social adepto da tradição e dos "bons costumes", e que nos vai ditando as regras. Mas porquê este quadro? Porquê este modelo padrão, e porquê a nossa resignação social em aceitá-lo?

Contudo as coisas estão a mudar aos poucos, e felizmente diga-se. Passou a haver divórcio. Passou também a haver também um conhecimento mais completo e aprofundado das pessoas antes desse contrato cego (na maioria dos casos) que é o casamento, e começa-se a assistir igualmente ao fenómeno das relações de facto, que no meu ver terão bastantes mais hipóteses de sucesso, não necessariamente a nível de duração (mas também), como ainda a nível da obtenção de um maior grau de felicidade. Nestas relações ninguém é obrigado a estar porque se comprometeu, mas sim porque o deseja plenamente, e está satisfeito com isso. Quando, e se, chegar o momento em que não seja esse o caso, pode sempre optar por terminar o relacionamento e partir de novo em busca da sua felicidade. No fundo, o que está na base ultima de tudo isto, e a nossa pré-programaçao para procriar os nossos genes, nomeadamente através de um filho, e isto sim, poderá ser um vínculo determinante. Contudo deverá ser este factor a ditar o início e o fortalecimento de uma relação e não o casamento, que o provoca por consequência dessa primeira escolha. Na nossa sociedade, quantas vezes a primeira situação provoca por arrastamento e uma certa conformação a segunda, ao invés de ser esta última a mais importante? E isto numa análise estritamente racional e evolucionista, pois sabemos todos bem que não e assim tão simples. A juntar a isto existe o sentimento do amor, e numa escala inferior a este, a paixão. Ainda descendo mais, podemos chegar a um sentimento de afecto, descendo ainda mais de empatia, e num plano abaixo, aquele sentimento de comunhão, de descoberta, de convívio puro, motivado pelo nosso fascínio de conhecer o outro. Se formos ainda dissecando mais por baixo, este último é quase sempre antecedido duma forte atracção, que pode ter ou não por origem uma amizade. Será a vulgarmente designada amizade colorida.

Ora o problema põe-se justamente neste ponto. Na passagem deste estado de atracção, em que não há nada mais do que um falso e deficiente conhecimento sobre a aparência (não só exterior dessa pessoa), para um estado de verdadeira partilha e conhecimento mútuo de ambas as personalidades. É neste ponto que a nossa educação e a nossa sociedade nos restringe e nos impede verdadeiramente de sermos humanos e de nos realizarmos enquanto indivíduos marcados por uma necessidade de preenchimento a todos os níveis, pela outra cara metade, na maior parte das vezes pelo homem ou pela mulher, não sendo sempre assim nesta visão heterossexual nem tendo de ser. A haver um passo, a sociedade tradicional impele-nos a dar um passo gigante, um passo abismal, para a situação de namoro, que é (como ponto exclusivo de compromisso a que me quero referir) semelhante na sua forma ao contrato de casamento. Nomeadamente no que diz respeito ao compromisso rígido, à promessa de fidelidade eterna (noção que aliás é discutível, e muito subjectiva de acordo com as convicções de cada um), e de compromisso assente, eterno e estável, que na realidade nunca chega a sê-lo. Defendo sim, uma liberdade de interacção e de convívio (até mais íntimo) antes de qualquer compromisso, que devia ser feita numa perspectiva mais alargada e descomplexada do que acontece hoje em dia, a fim de conhecermos bem as outros e a nós próprios, e enriquecermos as nossas experiências de vida. Apenas em certos casos, e mais especificamente, a partir do momento em que fosse registada uma forte empatia, que se desenvolvesse e desse origem a uma forte paixão, se deveria prosseguir na escala atrás descrita, até a um ponto tal de amadurecimento da relação, que fosse desejo de ambos abdicar deste ritual de procura, de sedução, e assumir um compromisso tácito (já consumado pelo tempo aliás), de no momento dedicar-se exclusivamente de corpo e alma àquela pessoa, tendo apesar de tudo como factor de peso, o bem estar presente (do dia de hoje, e não de ontem ou de amanha) de ambos, e não do contracto que dá pelo nome de compromisso.(cont)

(para ser continuado/ Desde ja as minhas desculpas pelos erros, porque não tive tempo de o reler)

Um bom exemplo desta necessidade premente, e da evolução neste sentido é a crescente popularidade da modalidade do swinging entre casais, embora esta seja na minha opinião feita segundo procedimentos mais rígidos e mais claramente definidos e limitados. Para além do mais é praticada depois de assumida uma relação, quando se presume que já há amor e um estado que deveria ser pleno, de estabilidade, felicidade e realização. Quem sabe se não surge por falta de um período de descoberta, como aquele que este texto refere. Ainda assim é de saudar.
Contudo, se feito algo do género noutros moldes, mas assente sim na liberdade de ambos, numa fase de experimentação, sem uma relação séria e que poderá ou não prosseguir no futuro, seria sem dúvida mais natural.

O texto será terminado e colocado aqui neste mesmo post. Não houve tempo para mais, mas há muito mais a dizer, e não era só aqui que queria chegar. Há que concluir a ideia. Mas no fundo, o que interessa é procurar a felicidade, e não nos resignarmos aos ultrapassados e incorrectos protocolos sociais, que nos impedem de irmos vivendo, e de nos conhecermos melhor e aperfeiçoarmos enquanto pessoas. A minha maior e mais intensa duração, começou com as designadas “curtes”, e com o tempo adquiriu uma dimensão tão forte que o último beijo foi dado 6 anos depois do primeiro. Pelo meio houve outras coisas, que em vez de a diminuíram, só a fortaleceram. Se não resultou, foi precisamente pela experiência que fomos ganhando, e que nos diz para nos irmos sempre aperfeiçoando e experimentando, até chegar o momento e a pessoa que noz faz pensar que é aquela, que chegámos lá. E depois, todo o vosso percurso de vida não terá sido um desperdício, mas ao invés um instrumento útil, que vos permitiu chegar, e se conseguirem manter, a essa situação presente. É mesmo assim, só não vê quem não quer. Amor à primeira vista é um mito, um conceito utópico. É sim uma boa indicação para avançarem e irem ao encontro dessa pessoa, para conhecê-la realmente, e a vós próprios.

Boas abordagens!!!

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