Friday, December 09, 2005

Maldita Droga

Parece mentira, como te consegui esquecer tão depressa.
Nem parecia que tinha durado um ano, esta obsessiva paixão platónica, a julgar pelo curto período de tempo em que se extinguiu. Um período de distância, a abstinência das drogas e o regresso a uma vida activa com um entusiasmo crescente pelo curso, e não só, contribuíram no conjunto para uma clareza harmoniosa e equilibrada do espírito que não imaginava alcançar tão facilmente nos próximos anos.

A tua ausência foi compensada pelo sucesso em outras frentes, e a bem dizer, o meu maior sucesso é já não me lembrar de ti, já não ter que me voltar a lembrar de ninguém. Já não preciso de correr. Agora prefiro esperar por alguém que passe e me pegue pela mão, quando seja essa a sua vontade. Não avanço muitos metros, mas gosto do calor das mãos de quem me pega. Sinto-me bem nesta posição. Lembro-me de como gostava tanto mais, quando não gostava. Não gostava mas por outro lado dava gosto. Seja como for, bastou-me um pouco de calor para me acender novamente. Um fogo exterior que não se nota, mas que me permite repousar confortavelmente no inverno. Bem diferente do fogo interior que me consumia e mantinha sempre frio, ao mesmo tempo visível e não me permitia parar por um segundo. Sair de casa também era impossível, lembro-me. Demasiado isolamento. Provavelmente foi esse o problema. A angustiante sede de auto-confiança embriagou-me. O termostato subiu demasiado. Não devia ter ficado tanto tempo fora de casa. Não me devia ter apanhado tanto calor num tão curto espaço de tempo. E como se não bastasse, quando me senti suficientemente quente, tinha logo de ir á procura daquela que estava mais longe.

Ainda me lembro de há umas semanas erguer a taça, satisfeito e ao mesmo tempo surpreendido com a facilidade da vitória. A normalidade fazia sentido. Hoje olho para mim, e rio-me ironicamente dos saltinhos ridículos, do sorriso estúpido de orelha a orelha, do meu ingénuo optimismo, da minha irreflectida alegria e boa disposição. Dos flashbacks dos momentos mágicos (insignificantes, mas infinitamente sobrecarregados pela droga que metemos juntos) que vou fazendo rodar continuamente pela minha cabeça, como injecções sucessivas de melancolia (e não só) que vou injectando compassadamente para não descer á terra por um minuto que seja. Os suspiros constantes confirmam o acelerado ritmo cardíaco. No alucinado mas ao mesmo tempo tranquilo cérebro, que parece repousar adormecido de tudo quanto é relevante, circulam milhares de imagens hipotéticas de puro prazer e deleite. Porquê ter de voltar a passar por isto? Porquê ter de me voltar a sentir tão irracionalmente feliz? Porquê desenterrar negligentemente o passado? Maldita a hora, em que voltei a sair contigo.
És mais viciante do que a própria droga...

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